terça-feira, 17 de junho de 2008
DOENÇA DOS PEZINHOS
DESCOBERTA PORTUGUESA ABRE NOVAS ESPERANÇAS AO TRATAMENTO E PREVENÇÃO
Investigadores portugueses descobriram que um composto da bílis pode dar novas esperanças ao tratamento e prevenção da paramiloidose familiar, ou "doença dos pezinhos", uma doença neurológica rara e hereditária ainda sem cura.
Num estudo aceite para publicação pela revista BBA - Molecular Basis of Disease, a equipa da Prof. Maria João Saraiva, do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC.INEB) da Universidade do Porto, constatou que a administração de TUDCA, um ácido biliar produzido naturalmente no organismo, em ratinhos transgénicos reduz em 75 por cento a formação de fibras amilóide.
A doença
É a deposição destas fibras nos nervos periféricos que está na origem da perda de capacidades característica da doença, que tem início entre os 20 e os 35 anos e começa por se revelar com perda de sensibilidade térmica e dolorosa nos membros inferiores (daí o seu nome), acabando por ser fatal passados em média sete a dez anos.
A paramiloidose familiar resulta da alteração na estrutura da proteína TTR (transtirretina), devido a uma mutação no seu gene. Enquanto a TTR normal é solúvel no plasma e estável nos tecidos, a mutada é solúvel no plasma mas instável nos tecidos, levando à formação das fibras de amilóide, que se depositam um pouco por todo o organismo, causando morte celular.
Os investigadores recorreram a modelos animais transgénicos que produzem a proteína TTR mutada, responsável pelo desenvolvimento da doença nos humanos, nos quais demonstraram os efeitos benéficos da administração da TUDCA, através da redução dos depósitos nocivos de TTR e de indicadores de morte celular que se registam na doença.
As terapias convencionais consistem ou num transplante de fígado, que diminui o sofrimento mas não elimina os danos já causados ou a aparecer, ou em evitar a transformação da TTR mutada da sua forma solúvel e estável na sua forma instável - explicou Maria João Saraiva à agência Lusa.
Alternativa ao transplante hepático
"Outra alternativa é desagregar as fibras nos tecidos", assinalou, sendo esta uma linha de investigação que a sua equipa tem vindo a desenvolver desde 2003, primeiro in vitro (em tubos de ensaio) e em tubos de ensaio, e a seguir em testes em modelos animais, com a demonstração de que as tetraciclinas, e em particular a doxiciclina, têm capacidade para desagregar fibras de TTR.
"Esta observação foi capital para o desenvolvimento de ensaios clínicos, não só em doentes com paramiloidose familiar, que estão em curso em Itália, mas também noutras amiloidoses, tais como Alzheimer e diabetes de tipo II que afectam milhões de pessoas", afirmou a investigadora.
A equipa está agora a testar em modelos animais a conjugação do tratamento de um desagregador de fibras e de um inibidor de fibras, com o intuito de verificar vantagens acrescidas na prevenção de deposição de TTR nos tecidos, segundo a investigadora.
Dados conhecidos dão conta de que em Portugal há mais de 500 famílias afectadas e cerca de 2.000 doentes sintomáticos com paramiloidose familiar, cuja designação mais rigorosa é Polineuropatia Amiloidótica Familiar ou PAF.
(Lusa : 17-06-2008)
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