quarta-feira, 1 de julho de 2009

AMIZADE


Amizade é mais que afinidade. Envolve mais que afeição. As exigências da amizade - franqueza, sinceridade, lealdade incondicional e auxílio a ponto do sacrifício - são estímulos poderosos para o amadurecimento moral e o enobrecimento. A amizade genuína requer tempo, esforço e trabalho para ser mantida. A amizade é algo profundo, e de facto, é uma forma de amor, é verdade.
A verdade é a luz que se expande. Aquece sem queimar e vivifica sem produzir cansaço. A meditação facilita-lhe o contacto, a oração aproxima o homem da sua matriz e a caridade propicia a vivência com ela. A humildade abre a porta para que entre no coração do homem e a fé facilita-lhe a hospedagem nos sentimentos.
A vida sempre surpreende. Ou talvez se deva dizer que a morte surpreende a vida? Afinal, ela sempre aparece num momento inoportuno.
A vida pode ser comparada à conquista de uma montanha. Como a vida, ela possui altos e baixos. Para ser conquistada, deve merecer detalhada observação, a fim de que a chegada ao topo se dê com sucesso.
É aí que precisamos de um amigo para nos auxiliar. Podemos estar machucados, feridos ao ponto de não conseguir, por nós mesmos, sair do lugar. O amigo vem e nos cura os ferimentos.
Estende-nos as mãos, puxa-nos e nos auxilia a recomeçar a escalada. Os pés e as mãos vão se firmando, a corda nos prende ao amigo que nos puxa para a subida. Na longa jornada, os espaços acima vão sendo conquistados dia a dia.
Por vezes, o ar parece tão rarefeito que sentimos dificuldade para respirar. O que nos salva é o equipamento certo para este momento. Depois vêm as tempestades de neve, os ventos gélidos que são os problemas e as dificuldades que ainda não superamos. Se escorregamos numa ladeira de incertezas, podemos usar as nossas habilidades para parar e voltar de novo. Se caímos num buraco de falsidade de alguém que estava coberto de neve, sabemos a técnica para nos levantar sem torcer o pé e sem aleijarmos quem esteja por perto. Para a escalada da montanha da vida, é preciso aprender a subir e descer, cair e levantar, mas voltar sempre com a mesma coragem. Não desistir nunca de uma nova felicidade, uma nova caminhada, uma nova paisagem, até chegar ao topo da montanha.
Eu digo com toda a minha humildade: "quem de nós não quer chegar ao alto da sua própria montanha? Todos nós temos um desejo, um sonho, um objectivo, um verdadeiro Everest, a mais perigosa montanha, mas a que mais atrai pessoas. E este Everest está dentro de nós e é preciso ir em busca dele, da nossa mais profunda realização."
A verdadeira doação é dar-se por inteiro, sem restrições. Gratidão de quem ama não coloca limites para os gestos de ternura. E a gratidão é sempre a manifestação dos espíritos que têm riqueza de emoções e altruísmo.
Poucas criaturas decidem lutar para harmonizar as diferenças, superar os problemas, em nome do amor, a fim de que a relação se solidifique.
Contudo, quando o amor se expressa, todo o panorama se modifica. É difícil a alma que resista às expressões do amor. Porque o amor traz a mensagem da planificação, do bem estar, da alegria. Desta forma, é sempre salutar investir no amor, expressando-o através de gestos, pequenas atenções, gentilezas.
O amor é o sentimento por excelência e tem a capacidade de transformar situações e pessoas.
Não permitamos que a morte arrebate a chance de dizermos o quanto amamos as pessoas. O quanto elas são importantes para nós. Pode ser uma avó, um irmão, um amigo. Não necessariamente somente pessoas do círculo familiar. Aprendamos a esboçar gestos de amor e a dizer palavras que alimentam a alma do outro. Mesmo que um dia alguém nos tenha dito que não é bom o outro saber que o amamos, porque se aproveitará de nós. Mesmo que outro alguém tenha insinuado que parecemos tolos quando ficamos afirmando a intensidade do nosso amor, da nossa amizade e da nossa ternura.
Será que temos, sempre em tempo oportuno e preciso, aparado as arestas dos azedumes e dos pequenos mal-entendidos?
Estamos permitindo que se acumule o lixo das mágoas e da indiferença nos canteiros onde deveriam se concentrar as flores da afeição mais pura?
Temos lubrificado, diariamente, as ferramentas da gentileza, da simpatia entre os nossos amores, atendendo as suas necessidades e carências, com carinho e ternura? E, por fim, qual tem sido o nosso preço?
Por vezes pensamos que grandes momentos são motivados por grandes feitos.
Contudo, existem coisas mínimas que representam muito para uma vida. O importante é estar atento, a fim de não perder essas ricas oportunidades de dar felicidade a alguém. Mesmo que seja um simples passeio pela cidade, uma ida ao cinema, um volta pelo jardim, um simples café, uma simples e humilde conversa no fim de uma tarde, atender um telefonema na calada da noite, etc., etc., etc. . Pensa nisto! E está atenta para as coisas mínimas, os gestos quase insignificantes. Eles podem representar, para alguém, toda a felicidade.

Muitos de nós temos facilidades para fazer novos amigos. Mas, nem sempre temos habilidade suficiente para manter essas amizades. É que, pelo grau de intimidade que os amigos vão adquirindo nas nossas vidas, esquecemo-nos de os respeitar.
Assim, num dia difícil, acreditamos que temos o direito de gritar com o amigo. Afinal, com alguém devemos desabafar a raiva que nos domina. Porque estamos juntos muitas horas, justamente por sermos amigos, permitimo-nos usar para com eles de olhares agressivos, de palavras rudes.
Ou então, usamos os nossos amigos para a lamentação constante. Todos os dias, em todos os momentos em que nos encontramos, seja para um lanche, um passeio, uma ida ao teatro ou ao cinema, lá estamos nós, usando os ouvidos dos nossos amigos como lixeira.
É isso mesmo. Despejando neles toda a lama da nossa amargura, das nossas queixas, das nossas reclamações. Quase sempre, produto da nossa forma pessimista de ver a vida. Sim, os nossos amigos devem saber das dificuldades que nos alcançam para nos poderem ajudar. O que não quer dizer que devamos estragar todos os momentos de encontro, de troca de afectos, com os nossos pedidos, a nossa tristeza.
Os amigos também têm as suas dificuldades e para nos alegrar, procuram esquecê-las e vêm, com a sua presença, colocar flores na nossa estrada árida. Outras vezes, usamos os nossos amigos para brincadeiras tolas, até de mau gosto. Acreditando que eles, por serem nossos amigos, devem suportar tudo. E quase sempre tornamo-nos inconvenientes e os ofendemos.
Por isso, a melhor fórmula para fazer e manter amigos é usar a gentileza, a simpatia, a doçura no trato com as pessoas.
Lembro que a amizade, como o amor, necessita ser alimentada como as plantas do nosso jardim. Por isso a amizade necessita, para se manter da terra fofa da bondade, do sol do afecto, da chuva da generosidade, da brisa leve dos pequenos gestos de todos os dias.
Usar a cortesia nos nossos movimentos e acções, gerando simpatia e amizade. Podemos começar no nosso ambiente de trabalho. Os que trabalham connosco merecem a tua consideração e o teu respeito. Torna-os teus amigos. Lembra-te de dizer bom dia, com um sorriso, desejando de verdade que eles todos tenham um bom dia. Observa e ajuda quanto puderes, gerando clima de simpatia.
As flores, por mais belas que sejam, um dia murcham e morrem... Mas o seu perfume permanece no ar e no olfacto daqueles que o souberam guardar em frascos adequados. O corpo humano, por mais belo e cheio de vida que seja, um dia envelhece e morre. Mas as virtudes do espírito que dele se liberta continuam vivas nos sentimentos daqueles que as souberam apreciar e preservar, no frasco do coração.

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