A Vigília Pascal e a realidade da Igreja
1. Na liturgia desta noite, a Igreja celebra o seu próprio mistério, o itinerário da salvação, vivido na fé e conduzido pelo Espírito de Deus. Como em nenhuma outra celebração, a Igreja é convidada a fazer memória de toda a história da salvação. É outra maneira de professar a nossa fé, ao ritmo da memória do que Deus fez pelo seu Povo.
Começámos por professar a nossa fé em Deus Criador. Na perspectiva bíblica, a criação é a primeira página da História da Salvação. O Povo de Israel chegou à consciência do poder criador da Palavra, porque experimentou, na sua caminhada de fé, o poder da Palavra de Deus. Deixar de acreditar que Deus é criador é alterar radicalmente o sentido profundo do Universo e da História e da presença do homem na realidade que o envolve e lhe foi dada para que a aperfeiçoe, para construir a sua própria felicidade.
Recordámos a solicitude amorosa de Deus, que nunca abandonou o homem, apesar da sua desobediência. Em Abraão anuncia um povo escolhido, com quem faz Aliança e que dinamiza com uma promessa. Aliança e promessa tornam-se os esteios sólidos da identidade desse Povo. Aliança que só se mantém devido à fidelidade de Deus, sempre mantida e renovada, até à sua celebração definitiva ratificada no sangue de Cristo. Essa nova Aliança é a definitiva, porque, em Jesus Cristo, Deus e Homem, a humanidade já não falhará. Não será só Deus a ser fiel, mas a humanidade é fiel em Jesus Cristo que a representa.
Por seu lado, a promessa galvaniza a esperança e define o ritmo espiritual da caminhada. Promessa de uma terra prometida, onde correm o leite e o mel; promessa de um Messias, que é Nosso Senhor Jesus Cristo e que, na sua ressurreição, introduz o Povo na verdadeira terra prometida. Quando entraram na Palestina, depois de atravessarem o deserto, os israelitas comeram os frutos dessa terra que o Senhor lhes dava. Mas é Nosso Senhor Jesus Cristo, quem, ao ressuscitar, nos permite, através do dom do seu Espírito, provar já os frutos dessa terra definitiva, a nossa pátria celeste. Sem desejar o Céu, toda a caminhada da História da Salvação perde sentido. O Povo que Cristo reuniu é o mesmo Povo de Deus, que continua a caminho, galvanizado pela promessa da pátria definitiva, onde Cristo já nos introduziu para experimentarmos n’Ele as primícias dessa terra prometida. Justamente Ele é chamado o novo Moisés.
1. Na liturgia desta noite, a Igreja celebra o seu próprio mistério, o itinerário da salvação, vivido na fé e conduzido pelo Espírito de Deus. Como em nenhuma outra celebração, a Igreja é convidada a fazer memória de toda a história da salvação. É outra maneira de professar a nossa fé, ao ritmo da memória do que Deus fez pelo seu Povo.
Começámos por professar a nossa fé em Deus Criador. Na perspectiva bíblica, a criação é a primeira página da História da Salvação. O Povo de Israel chegou à consciência do poder criador da Palavra, porque experimentou, na sua caminhada de fé, o poder da Palavra de Deus. Deixar de acreditar que Deus é criador é alterar radicalmente o sentido profundo do Universo e da História e da presença do homem na realidade que o envolve e lhe foi dada para que a aperfeiçoe, para construir a sua própria felicidade.
Recordámos a solicitude amorosa de Deus, que nunca abandonou o homem, apesar da sua desobediência. Em Abraão anuncia um povo escolhido, com quem faz Aliança e que dinamiza com uma promessa. Aliança e promessa tornam-se os esteios sólidos da identidade desse Povo. Aliança que só se mantém devido à fidelidade de Deus, sempre mantida e renovada, até à sua celebração definitiva ratificada no sangue de Cristo. Essa nova Aliança é a definitiva, porque, em Jesus Cristo, Deus e Homem, a humanidade já não falhará. Não será só Deus a ser fiel, mas a humanidade é fiel em Jesus Cristo que a representa.
Por seu lado, a promessa galvaniza a esperança e define o ritmo espiritual da caminhada. Promessa de uma terra prometida, onde correm o leite e o mel; promessa de um Messias, que é Nosso Senhor Jesus Cristo e que, na sua ressurreição, introduz o Povo na verdadeira terra prometida. Quando entraram na Palestina, depois de atravessarem o deserto, os israelitas comeram os frutos dessa terra que o Senhor lhes dava. Mas é Nosso Senhor Jesus Cristo, quem, ao ressuscitar, nos permite, através do dom do seu Espírito, provar já os frutos dessa terra definitiva, a nossa pátria celeste. Sem desejar o Céu, toda a caminhada da História da Salvação perde sentido. O Povo que Cristo reuniu é o mesmo Povo de Deus, que continua a caminho, galvanizado pela promessa da pátria definitiva, onde Cristo já nos introduziu para experimentarmos n’Ele as primícias dessa terra prometida. Justamente Ele é chamado o novo Moisés.
2. Esta Vigília, com a longa Liturgia da Palavra, faz-nos sentir que nessa também longa caminhada do Povo de Deus, a Palavra do Senhor foi constante, insistente, omnipresente. Deus nunca desistiu de falar ao coração do seu Povo. Criou o homem à sua imagem para este O poder escutar, e nunca desistiu de lhe falar. Quando os reis se profanizaram, à semelhança dos reis dos outros povos, quando os sacerdotes ficaram prisioneiros do poder e da formalidade do culto, enviou-lhes profetas. Não escutar o Senhor era perder o rumo e a orientação da própria caminhada na História. Deus levou a persistência em falar ao seu Povo até ao extremo, ao ponto de a sua Palavra eterna, o seu Verbo, se fazer Homem para ser, com toda a sua vida e para toda a eternidade, a Palavra de Deus. Os israelitas perceberam que toda a Palavra de Deus, tinha a força da palavra criadora. Antes da criação do homem, bastava Deus dizer, e a vida acontecia. Com o homem, a Palavra de Deus só faz acontecer no seio da liberdade humana. Essa harmonia perfeita entre a Palavra criadora e a liberdade, só aconteceu em Jesus Cristo e naqueles que, unidos a Ele, se deixam conduzir pelo Espírito.
Esta tensão entre a Palavra de Deus e a liberdade do homem continua a existir, e a sua manifestação mais grave é deixar de acreditar que Deus age connosco na construção da história.
Esta tensão entre a Palavra de Deus e a liberdade do homem continua a existir, e a sua manifestação mais grave é deixar de acreditar que Deus age connosco na construção da história.
3. Mas esta Vigília não se limita a evocar a memória da História da Salvação, mas define o ritmo da nossa caminhada de fé, como Povo de Deus. Reconhecemos, nesta Vigília, o ritmo da Iniciação Cristã. Tudo começa num longo período de escuta da Palavra de Deus que se acolhe na fé. Esta começa no momento em que se reconhece na palavra escutada a Palavra de Deus. Então acolhemos essa Palavra, não apenas tentando compreendê-la, mas respondendo, na confiança do coração, ao Deus que nos fala. Isso torna-se decisivo quando acreditamos em Jesus Cristo, Palavra definitiva de Deus e que resume em Si todas as palavras que Deus disse ao seu Povo, ao longo da história. E quando, depois desse longo período de escuta da Palavra, acreditamos com o coração e confessamos com a língua, que Jesus Cristo é a Palavra de Deus e que o Pai O ressuscitou dos mortos, podemos unir-nos a Ele pelo baptismo, receber a força do seu Espírito e celebrar a Eucaristia, sacramento da sua Páscoa. A nossa fé começou na escuta da Palavra, adensa-se no compromisso com Jesus Cristo, arrasta-nos para viver ao ritmo do Espírito. A fé torna-se compromisso de vida, sempre renovado como expressão da nossa fidelidade. A escuta da Palavra, nesta celebração, conduz-nos ao baptismo, ao sacramento do Espírito, à renovação dos nossos compromissos de fé com Jesus Cristo ressuscitado. Só depois podemos celebrar a Eucaristia que é, e sempre será, a mais completa e empenhativa profissão de fé.
É por isso que a Eucaristia marca o ritmo da nossa vida cristã. Porque nos unimos a Cristo, no baptismo, e recebemos o Espírito Santo, podemos escutar, sempre de novo, a Palavra do Senhor, na alegria de estarmos já a experimentar os frutos da terra prometida. Essa alegria exprimir-se-á na aclamação jubilosa do Aleluia. Quem participa da Páscoa de Cristo tem de sentir essa alegria profunda, fruto do Espírito Santo, e que anuncia a alegria da bem-aventurança eterna.
É por isso que a Eucaristia marca o ritmo da nossa vida cristã. Porque nos unimos a Cristo, no baptismo, e recebemos o Espírito Santo, podemos escutar, sempre de novo, a Palavra do Senhor, na alegria de estarmos já a experimentar os frutos da terra prometida. Essa alegria exprimir-se-á na aclamação jubilosa do Aleluia. Quem participa da Páscoa de Cristo tem de sentir essa alegria profunda, fruto do Espírito Santo, e que anuncia a alegria da bem-aventurança eterna.
4. Além de evocar a memória da História da Salvação e o ritmo da iniciação que leva um homem ou uma mulher a serem cristãos, esta Vigília traça o ritmo da vida cristã, da nossa fidelidade em cada tempo e no concreto da nossa vida. O elemento fundamental e decisivo é a nossa união a Cristo ressuscitado, de modo a poder dizer como Paulo: “para mim viver é Cristo” (Fil. 1,21). Isso supõe a abertura ao ritmo do Espírito Santo que nos permite dar dimensão eucarística a toda a nossa existência.
Recorda-nos o papel decisivo da escuta da Palavra de Deus nessa caminhada de fidelidade. É preciso escutar continuamente a Palavra. Só assim perceberemos que a nossa vida é obra de Deus, que Ele age connosco e é protagonista da nossa história. Só a Palavra nos revela as realidades a que aderimos, nos ilumina nos momentos de obscuridade e de dúvida, nos conduz à verdade e nos ajuda a discernir a realidade segundo os critérios de Deus.
Esta Vigília recorda-nos também que somos dinamizados por uma promessa, a da eternidade com Cristo, o qual, sendo Palavra criadora, criará para nós novos céus e nova terra. A verdade do cristianismo não se esgota no tempo presente; somos peregrinos da cidade definitiva, da Jerusalém Celeste. A luz de Cristo é a luz da nossa fé, é o sentido de todas as coisas que Ele encerra em Si mesmo, no mistério da sua ressurreição. E a luz não serve para esconder, mas para elevar de maneira a iluminar toda a família humana. Ter sido iluminados por essa luz é o acontecimento decisivo da nossa vida e o princípio da exigência da missão. Se nos deixarmos inundar por essa luz, o Senhor dir-nos-á, a nós também: “Vós sois a luz do mundo”! (Mt. 5,14).
Sé Patriarcal, 3 de Abril de 2010
† JOSÉ, Cardeal-Patriarca
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