Padre Anselmo Borges analisa discursos do Papa - De manhã, aos peregrinos, reafirmou que a missão profética de Fátima ainda não está concluída. À tarde, aos leigos, na Pastoral Social, criticou o aborto e o casamento homossexual. Ao final do dia, disse aos bispos que lamentava o silêncio da fé, embora estivesse optimista quanto aos "novos movimentos eclesiais".
HOMILIA MATINAL
13 minutos
"'A linhagem do povo de Deus será conhecida […] como linhagem que o Senhor abençoou.' Assim começava a primeira leitura desta Eucaristia, cujas palavras encontram uma realização admirável nesta devota assembleia aos pés de Nossa Senhora de Fátima. Irmãs e irmãos muito amados, também eu vim como peregrino a Fátima, a esta 'casa' que Maria escolheu para nos falar nos tempos modernos. Vim a Fátima para rejubilar com a presença de Maria e sua materna protecção. Vim a Fátima, porque hoje converge para aqui a Igreja peregrina, querida pelo seu Filho como instrumento de evangelização e sacramento de salvação. Vim a Fátima para rezar, com Maria e tantos peregrinos, pela nossa humanidade acabrunhada por misérias e sofrimentos. (…) Vim a Fátima (…) para confiar à protecção materna de Maria os sacerdotes, os consagrados e consagradas, os missionários e todos os obreiros do bem que tornam acolhedora e benfazeja a Casa de Deus. (…) Prova disto mesmo é este lugar bendito. Mais sete anos e voltareis aqui para celebrar o centenário da primeira visita feita pela Senhora 'vinda do Céu', como Mestra que introduz os pequenos videntes no conhecimento íntimo do Amor Trinitário e os leva a saborear o próprio Deus como o mais belo da existência humana. (…) Uma experiência de graça que os tornou enamorados de Deus em Jesus, a ponto de a Jacinta exclamar: 'Gosto tanto de dizer a Jesus que O amo. Quando Lho digo muitas vezes, parece que tenho um lume no peito, mas não me queimo.' E o Francisco dizia: 'Do que gostei mais foi de ver a Nosso Senhor, naquela luz que Nossa Senhora nos meteu no peito. Gosto tanto de Deus!' (…) Ao ouvir estes inocentes e profundos desabafos místicos dos Pastorinhos, poderia alguém olhar para eles com um pouco de inveja por terem visto ou com a desiludida resignação de quem não teve essa sorte mas insiste em ver. A tais pessoas, o Papa diz como Jesus: 'Não andareis vós enganadas, ignorando as Escrituras e o poder de Deus?' (Mc 12, 24). As Escrituras convidam-nos a crer: 'Felizes os que acreditam sem terem visto' (Jo 20, 29). (…) Aquela Luz no íntimo dos Pastorinhos, que provém do futuro de Deus, é a mesma que se manifestou na plenitude dos tempos e veio para todos: o Filho de Deus feito homem. (…) Exemplo e estímulo são os Pastorinhos, que fizeram da sua vida uma doação a Deus e uma partilha com os outros por amor de Deus (…) Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída. Aqui revive aquele desígnio de Deus que interpela a humanidade desde os seus primórdios: 'Onde está Abel, teu irmão? […] A voz do sangue do teu irmão clama da terra até Mim' (Gn 4, 9). O homem pôde despoletar um ciclo de morte e terror, mas não consegue interrompê-lo… (…) Com a família humana pronta a sacrificar os seus laços mais sagrados no altar de mesquinhos egoísmos de nação, raça, ideologia, grupo, indivíduo, veio do Céu a nossa bendita Mãe oferecendo-Se para transplantar no coração de quantos se Lhe entregam o Amor de Deus que arde no seu. (…) Então eram só três, cujo exemplo de vida irradiou e se multiplicou em grupos sem conta por toda a superfície da Terra, nomeadamente à passagem da Virgem Peregrina, que se votaram à causa da solidariedade fraterna. (…) Possam os sete anos que nos separam do centenário das Aparições apressar o anunciado triunfo do Coração Imaculado de Maria para glória da Santíssima"
Muito importante esta homilia. Com três pontos fundamentais: 1.º Recentrar o cristianismo em Jesus Cristo, pois Maria, mãe de Jesus, não pode ocupar o centro.
2.º A interpretação mística das "aparições" de Fátima. A revelação não cai do Céu. Do que se trata é de dar-se conta do mais profundo e íntimo, pois, como diz Santo Agostinho, Deus é mais íntimo do que a minha intimidade mais íntima. Deus não vem "de fora". É transcendente, mas na imanência mais radical. O que se passou em Fátima tem a ver com uma profunda experiência religiosa de crianças, no contexto sociocultural da altura.
3.º A mística autêntica não implica fenómenos extraordinários, como levitações, aparições, etc., mas este dar-se conta, no mais profundo do coração humano e de toda a realidade, do Deus vivo. Quem descobre Deus descobre o fundamento da esperança e age em consequência: abandona o altar do egoísmo e abre-se à solidariedade e à luta pela justiça universal.
PASTORAL SOCIAL
13 minutos
"(...) O cenário actual da história é de crise socioeconómica, cultural e espiritual, pondo em evidência a oportunidade de um discernimento orientado pela proposta criativa da mensagem social da Igreja. (...) A pressão exercida pela cultura dominante, que apresenta com insistência um estilo de vida fundado sobre a lei do mais forte, sobre o lucro fácil e fascinante, acaba por influir sobre o nosso modo de pensar, os nossos projectos e as perspectivas do nosso serviço, com o risco de esvaziá-los da motivação da fé e da esperança cristã que os tinha suscitado. (...) Exprimo profundo apreço a todas aquelas iniciativas sociais e pastorais que procuram lutar contra os mecanismos socioeconómicos e culturais que levam ao aborto e que têm em vista a defesa da vida e a reconciliação e cura das pessoas feridas pelo drama do aborto. As iniciativas que visam tutelar os valores essenciais e primários da vida, desde a sua concepção, e da família, fundada sobre o matrimónio indissolúvel de um homem com uma mulher, ajudam a responder a alguns dos mais insidiosos e perigosos desafios que hoje se colocam ao bem comum. Tais iniciativas constituem, juntamente com muitas outras formas de compromisso, elementos essenciais para a construção da civilização do amor"
Para o Papa, o cristianismo centra-se no Deus Logos e Amor. Assim, quem ama Deus deve amar, com amor inteligente, o que Deus ama: a criação e todos os seres humanos. Os pobres e marginalizados têm a preferência de Jesus. Daí, o amor gratuito e generoso pela caridade, mas tem também uma expressão política. A presente crise não é apenas socioeconómica, mas também cultural e espiritual. O empenhamento dos cristãos tem de estar na frente da defesa dos direitos humanos, no compromisso com a pessoa em todas as suas dimensões. Daí o apreço do Papa por todos os esforços no plano socioeconómico para evitar o aborto, que se estende às iniciativas na defesa da vida e da família, fundada sobre o matrimónio indissolúvel de um homem e uma mulher. Eis a mensagem do Papa, pela positiva, sobre o aborto e o casamento.
ENCONTRO COM BISPOS
13 minutos
"(…) Os tempos que vivemos exigem um novo vigor missionário dos cristãos chamados a formar um laicado maduro, identificado com a Igreja, solidária com a complexa transformação do mundo. (…) As pessoas clamam pela Boa Nova de Jesus Cristo, que dá sentido às suas vidas e salvaguarda a sua dignidade. (…) O apelo corajoso e integral aos princípios é essencial e indispensável; todavia, a mera enunciação da mensagem não chega ao mais fundo do coração da pessoa, não toca a sua liberdade, não muda a vida. (…) Confesso-vos a agradável surpresa que tive ao contactar com os movimentos e novas comunidades eclesiais. Observando-as, tive a alegria e a graça de ver como, num momento de fadiga da Igreja, num momento em que se falava de 'inverno da Igreja', o Espírito Santo criava uma nova primavera, fazendo despertar nos jovens e adultos a alegria de serem cristãos. (...) As dificuldades, agora mais sentidas, não vos deixem esmorecer na lógica do dom. Continue bem vivo no país o vosso testemunho de profetas de justiça e da paz, defensores dos direitos inalienáveis da pessoa, juntando a vossa voz em favor dos oprimidos, humilhados e molestados"
Os bispos, concretamente com a formação dos leigos, devem levar o testemunho de Cristo àqueles ambientes mais afastados da fé: políticos, intelectuais (o que faz a Universidade Católica?, pergunto), profissionais da comunicação. O Papa está convencido que as pessoas, neste tempo de crise económica, cultural e espiritual, clamam pela Boa Nova de Cristo, que dá sentido e dignidade à sua existência. A Igreja parece cansada, mas surgem novos movimentos cristãos, que os bispos devem acompanhar. Os bispos não podem ser simples funcionários (a palavra é minha), têm de ser profetas abertos à inspiração do Espírito, na prestação de um serviço à Igreja e ao mundo, na lógica do dom. Defensores dos direitos inalienáveis da pessoa humana, devem ser a voz dos que não têm voz, em favor dos humilhados e ofendidos, junto de todas as pobrezas, incluindo as de falta de sentido e esperança.
HOMILIA MATINAL
13 minutos
"'A linhagem do povo de Deus será conhecida […] como linhagem que o Senhor abençoou.' Assim começava a primeira leitura desta Eucaristia, cujas palavras encontram uma realização admirável nesta devota assembleia aos pés de Nossa Senhora de Fátima. Irmãs e irmãos muito amados, também eu vim como peregrino a Fátima, a esta 'casa' que Maria escolheu para nos falar nos tempos modernos. Vim a Fátima para rejubilar com a presença de Maria e sua materna protecção. Vim a Fátima, porque hoje converge para aqui a Igreja peregrina, querida pelo seu Filho como instrumento de evangelização e sacramento de salvação. Vim a Fátima para rezar, com Maria e tantos peregrinos, pela nossa humanidade acabrunhada por misérias e sofrimentos. (…) Vim a Fátima (…) para confiar à protecção materna de Maria os sacerdotes, os consagrados e consagradas, os missionários e todos os obreiros do bem que tornam acolhedora e benfazeja a Casa de Deus. (…) Prova disto mesmo é este lugar bendito. Mais sete anos e voltareis aqui para celebrar o centenário da primeira visita feita pela Senhora 'vinda do Céu', como Mestra que introduz os pequenos videntes no conhecimento íntimo do Amor Trinitário e os leva a saborear o próprio Deus como o mais belo da existência humana. (…) Uma experiência de graça que os tornou enamorados de Deus em Jesus, a ponto de a Jacinta exclamar: 'Gosto tanto de dizer a Jesus que O amo. Quando Lho digo muitas vezes, parece que tenho um lume no peito, mas não me queimo.' E o Francisco dizia: 'Do que gostei mais foi de ver a Nosso Senhor, naquela luz que Nossa Senhora nos meteu no peito. Gosto tanto de Deus!' (…) Ao ouvir estes inocentes e profundos desabafos místicos dos Pastorinhos, poderia alguém olhar para eles com um pouco de inveja por terem visto ou com a desiludida resignação de quem não teve essa sorte mas insiste em ver. A tais pessoas, o Papa diz como Jesus: 'Não andareis vós enganadas, ignorando as Escrituras e o poder de Deus?' (Mc 12, 24). As Escrituras convidam-nos a crer: 'Felizes os que acreditam sem terem visto' (Jo 20, 29). (…) Aquela Luz no íntimo dos Pastorinhos, que provém do futuro de Deus, é a mesma que se manifestou na plenitude dos tempos e veio para todos: o Filho de Deus feito homem. (…) Exemplo e estímulo são os Pastorinhos, que fizeram da sua vida uma doação a Deus e uma partilha com os outros por amor de Deus (…) Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída. Aqui revive aquele desígnio de Deus que interpela a humanidade desde os seus primórdios: 'Onde está Abel, teu irmão? […] A voz do sangue do teu irmão clama da terra até Mim' (Gn 4, 9). O homem pôde despoletar um ciclo de morte e terror, mas não consegue interrompê-lo… (…) Com a família humana pronta a sacrificar os seus laços mais sagrados no altar de mesquinhos egoísmos de nação, raça, ideologia, grupo, indivíduo, veio do Céu a nossa bendita Mãe oferecendo-Se para transplantar no coração de quantos se Lhe entregam o Amor de Deus que arde no seu. (…) Então eram só três, cujo exemplo de vida irradiou e se multiplicou em grupos sem conta por toda a superfície da Terra, nomeadamente à passagem da Virgem Peregrina, que se votaram à causa da solidariedade fraterna. (…) Possam os sete anos que nos separam do centenário das Aparições apressar o anunciado triunfo do Coração Imaculado de Maria para glória da Santíssima"
Muito importante esta homilia. Com três pontos fundamentais: 1.º Recentrar o cristianismo em Jesus Cristo, pois Maria, mãe de Jesus, não pode ocupar o centro.
2.º A interpretação mística das "aparições" de Fátima. A revelação não cai do Céu. Do que se trata é de dar-se conta do mais profundo e íntimo, pois, como diz Santo Agostinho, Deus é mais íntimo do que a minha intimidade mais íntima. Deus não vem "de fora". É transcendente, mas na imanência mais radical. O que se passou em Fátima tem a ver com uma profunda experiência religiosa de crianças, no contexto sociocultural da altura.
3.º A mística autêntica não implica fenómenos extraordinários, como levitações, aparições, etc., mas este dar-se conta, no mais profundo do coração humano e de toda a realidade, do Deus vivo. Quem descobre Deus descobre o fundamento da esperança e age em consequência: abandona o altar do egoísmo e abre-se à solidariedade e à luta pela justiça universal.
PASTORAL SOCIAL
13 minutos
"(...) O cenário actual da história é de crise socioeconómica, cultural e espiritual, pondo em evidência a oportunidade de um discernimento orientado pela proposta criativa da mensagem social da Igreja. (...) A pressão exercida pela cultura dominante, que apresenta com insistência um estilo de vida fundado sobre a lei do mais forte, sobre o lucro fácil e fascinante, acaba por influir sobre o nosso modo de pensar, os nossos projectos e as perspectivas do nosso serviço, com o risco de esvaziá-los da motivação da fé e da esperança cristã que os tinha suscitado. (...) Exprimo profundo apreço a todas aquelas iniciativas sociais e pastorais que procuram lutar contra os mecanismos socioeconómicos e culturais que levam ao aborto e que têm em vista a defesa da vida e a reconciliação e cura das pessoas feridas pelo drama do aborto. As iniciativas que visam tutelar os valores essenciais e primários da vida, desde a sua concepção, e da família, fundada sobre o matrimónio indissolúvel de um homem com uma mulher, ajudam a responder a alguns dos mais insidiosos e perigosos desafios que hoje se colocam ao bem comum. Tais iniciativas constituem, juntamente com muitas outras formas de compromisso, elementos essenciais para a construção da civilização do amor"
Para o Papa, o cristianismo centra-se no Deus Logos e Amor. Assim, quem ama Deus deve amar, com amor inteligente, o que Deus ama: a criação e todos os seres humanos. Os pobres e marginalizados têm a preferência de Jesus. Daí, o amor gratuito e generoso pela caridade, mas tem também uma expressão política. A presente crise não é apenas socioeconómica, mas também cultural e espiritual. O empenhamento dos cristãos tem de estar na frente da defesa dos direitos humanos, no compromisso com a pessoa em todas as suas dimensões. Daí o apreço do Papa por todos os esforços no plano socioeconómico para evitar o aborto, que se estende às iniciativas na defesa da vida e da família, fundada sobre o matrimónio indissolúvel de um homem e uma mulher. Eis a mensagem do Papa, pela positiva, sobre o aborto e o casamento.
ENCONTRO COM BISPOS
13 minutos
"(…) Os tempos que vivemos exigem um novo vigor missionário dos cristãos chamados a formar um laicado maduro, identificado com a Igreja, solidária com a complexa transformação do mundo. (…) As pessoas clamam pela Boa Nova de Jesus Cristo, que dá sentido às suas vidas e salvaguarda a sua dignidade. (…) O apelo corajoso e integral aos princípios é essencial e indispensável; todavia, a mera enunciação da mensagem não chega ao mais fundo do coração da pessoa, não toca a sua liberdade, não muda a vida. (…) Confesso-vos a agradável surpresa que tive ao contactar com os movimentos e novas comunidades eclesiais. Observando-as, tive a alegria e a graça de ver como, num momento de fadiga da Igreja, num momento em que se falava de 'inverno da Igreja', o Espírito Santo criava uma nova primavera, fazendo despertar nos jovens e adultos a alegria de serem cristãos. (...) As dificuldades, agora mais sentidas, não vos deixem esmorecer na lógica do dom. Continue bem vivo no país o vosso testemunho de profetas de justiça e da paz, defensores dos direitos inalienáveis da pessoa, juntando a vossa voz em favor dos oprimidos, humilhados e molestados"
Os bispos, concretamente com a formação dos leigos, devem levar o testemunho de Cristo àqueles ambientes mais afastados da fé: políticos, intelectuais (o que faz a Universidade Católica?, pergunto), profissionais da comunicação. O Papa está convencido que as pessoas, neste tempo de crise económica, cultural e espiritual, clamam pela Boa Nova de Cristo, que dá sentido e dignidade à sua existência. A Igreja parece cansada, mas surgem novos movimentos cristãos, que os bispos devem acompanhar. Os bispos não podem ser simples funcionários (a palavra é minha), têm de ser profetas abertos à inspiração do Espírito, na prestação de um serviço à Igreja e ao mundo, na lógica do dom. Defensores dos direitos inalienáveis da pessoa humana, devem ser a voz dos que não têm voz, em favor dos humilhados e ofendidos, junto de todas as pobrezas, incluindo as de falta de sentido e esperança.
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