Disfunção Sexual é a incapacidade de participar do acto sexual, com satisfação, devido à dor relacionada ao curso ou impedimento numa ou mais fases do ciclo da resposta sexual (desejo-excitação-orgasmo-resolução).
A Disfunção Sexual pode-se manifestar como uma diminuição da libido (falta de desejo sexual), ou como uma alteração da excitação. Neste último caso entraria em jogo a inibição da sensação genital, a disfunção eréctil, falta de lubrificação, ejaculação precoce ou retardada. Ainda faz parte do quadro de Disfunção Sexual os casos de retardo ou ausência do orgasmo, a dor durante, antes ou depois do coito.
A origem da Disfunção Sexual é muito variada, podendo ser derivada também de problemas psíquicos, principalmente da depressão, de doenças orgânicas, como os diabetes e a hipertensão ou transtornos funcionais, tais como, abusos de drogas e álcool, problemas hormonais e alterações nutricionais e efeitos colaterais de medicamentos.
Tendo em vista a complexidade da fisiologia sexual, posso dizer que a função sexual recebe influências do Sistema Nervoso Central e periférica (tudo o que não vem do cérebro). No Sistema Nervoso Central (SNC) sabemos que existem alguns neurotransmissores relacionados à função sexual, como por exemplo, a Dopamina, relacionada ao desejo e à excitação. Também participam da excitação a Serotonina e a Noradrenalina. Em termos de hormônios elaborados também no SNC, temos a prolactina, relacionada à excitação subjectiva e a ocitocina, diretamente relacionada ao orgasmo. Influindo na sexualidade e fora do SNC, ressaltam-se alguns hormônios, notadamente a progesterona, o estrogênio e a testosterona, todos envolvidos na deflagração do desejo sexual. Portanto, inúmeros elementos, especialmente hormônios e neurotransmissores, acham-se directamente ou indirectamente envolvidos com a função, desempenho e satisfação sexual de homens e mulheres. A Disfunção Sexual masculina e feminina atinge, 51% das mulheres e 48% dos homense. A depressão, como um dos maiores importantes factores de risco para as dificuldades sexuais, é responsável por boa parte destes índices, causando desinteresse pela actividade sexual, por comprometer especialmente o desejo e a capacidade de sentir prazer. Sem desejo, o ciclo do desempenho sexual fica impedido, já no seu início. Sem vocação para o prazer e sem o desejo, as fantasias sexuais não ocorrem e os estímulos não se efectivam. Não havendo desejo, a actividade sexual é pouca ou ausente, comprometendo o relacionamento como um todo e repercutindo em outras áreas da vida do casal.
No homem deprimido, a falta de excitação traduz-se na Disfunção Eréctil, chamada antes de Impotência Sexual. Trata-se da incapacidade de manter a erecção para se completar o acto sexual, facto que também irá gerar frustrações, e resultará num agravamento do estado depressivo.
A excitação sexual feminina alterada, também conhecida como frigidez, acomete igualmente um grande número de mulheres deprimidas, tendo como consequência à falta de prazer ou mesmo dor durante as relações sexuais. As mulheres nessas circunstâncias evitam o acto sexual e/ou desenvolvam um sentimento de culpa, agravando ainda mais o seu estado depressivo. Outro transtorno sexual frequentemente observado entre as mulheres deprimidas, é a incapacidade de alcançar a plenitude do prazer, o que as impede de atingir o orgasmo. A Disfunção Sexual frequente na Depressão pode ainda piorar mais quando, infelizmente, o próprio tratamento para a depressão acaba induzindo essas disfunções.
Aliás, esses efeitos colaterais são responsáveis também pelo abandono precoce do tratamento antidepressivo. Normalmente o tratamento antidepressivo deve estender-se por seis a nove meses em pacientes de baixo risco de recaída. Deve ir até um ano naqueles que têm antecedentes pessoais ou familiares de depressão e definitivo (anos) para pacientes crônicos ou que tiveram mais de três recaídas (10% a 15% dos casos). A falta de adesão à terapia antidepressiva, ou seja, o abandono do tratamento, é bastante grande. Normalmente os motivos alegados são, por ordem decrescente: estar-se sentindo melhor, não suportar os efeitos adversos, desconforto em usar os remédios e porque o clinico recomendou parar.
Os pacientes frequentemente necessitam de orientação para aceitar que estar sem depressão é prioritário para não ter Disfunção Sexual. Neste sentido, é importante orientar também a(o) parceira(o). Paciente e parceira(o) devem ainda ser informados de que é grande o risco para novo episódio depressivo, se o uso da medicação for interrompido, antes do término do tratamento. Nem todos os antidepressivos são bem tolerados por todas pessoas e quanto mais selectivo for o antidepressivo, sobre o número de produtos e locais do cérebro sobre os quais actua, menos são os efeitos colaterais.
Efeitos de alguns antidepressivos sobre a sexualidade:
TRICÍCLICOS: Desipramina Nortriptilina Amitriptilina Imipramina - Diminuição do desejo, disfunção orgástica, atraso ou ausência de orgasmo, disfunção de ejaculação e disfunção erétil.
ISRS: Citalopram Escitalopram Fluoxetina Fluvoxamina Paroxetina Sertralina - Diminuição do desejo, disfunção orgástica, disfunção de ejaculação e diminuição da lubrificação.
OUTROS: Bupropiona - Aumento do desejo e diminuição de excitação (raro).
Nefazodone - Sem efeito no desejo e mínima disfunção orgástica.
Mirtazapina - Sem efeito no desejo e mínima disfunção de excitação.
Trazodone - Aumento do desejo, disfunção erétil e orgástica, priapismo (raro).
Venlafaxina - Diminuição do desejo, disfunção orgástica, disfunção eréctil.
A Disfunção Sexual pode ser primária, quando estão presentes desde o início da vida sexual, ou secundárias, quando surgem depois de um período de vida sexual normal.
A Disfunção Sexual pode ainda ser generalizada, quando estiver presente em todas as relações, ou situacionais, quando depender das circunstâncias. Investigando a Disfunção Sexual primária, deve-se questionar:
1. - doenças pessoais e familiares, hospitalização durante a infância; 2. - experiências sexuais infantis; 3. - atitudes e crenças dos pais e educadores sobre o sexo; 4. - conflitos pessoais.
Investigando a Disfunção Sexual secundária, deve-se questionar:
1. - perdas: emprego, parceiro (a), entes queridos; 2. - conflitos relacionais; 3. - conflitos pessoais: incapacidade de envolvimento e relacionamento; 4. - ansiedade, medo, raiva, culpa.
Investigando a Disfunção Sexual generalizada, deve-se questionar:
1. - condições médicas: endocrinológicas, neurológicas, cardíacas, renais, hepáticas, psiquiátricas; 2. - efeito de medicamentos, especialmente anfetaminas, betabloqueadores, digoxina, interferon, metadona, cimetidina, indometacina, antidepressivos.
Investigando a Disfunção Sexual situacionais, deve-se questionar:
1.- o significado do sexo, num determinado relacionamento; 2.- conflitos no relacionamento com determinado (a) parceiro (a); Situações específicas: uso de drogas ou álcool, falta de privacidade, filhos pequenos, etc.
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