segunda-feira, 19 de maio de 2008

STRESS


Há ainda quem acredite que uma certa dose de stress pode ser um bom contributo para se trabalhar melhor. O stress permite manter as pessoas mais atentas e estimuladas. Talvez seja verdade. Mas o stress também serve para criar angústia, tensão e receio de falhar. E quando atinge níveis excessivos, o stress pode mesmo ser o maior responsável por situações depressivas.
O stress é a doença generalizada deste fim de século e de milénio. Mais de metade dos assalariados nos países industrializados queixam-se dos seus efeitos desastrosos. Precisamente o contrário do que afligia as gerações do final do século passado, para quem a tragédia era o de não terem absolutamente nada que fazer, o aborrecerem-se mortalmente com um tédio contínuo. Hoje, o stress não escolhe classes sociais, afectando uma em cada três pessoas.
Geralmente responsabilizam-se os superiores hierárquicos pela pressão, que gere situações de stress. Mas o que é certo é que, mesmo nas empresas com uma estrutura organizativa mais horizontal, as pessoas sofrem de stress. Fazer mais em menos tempo
Em muitas empresas, as competências que outrora estavam perfeitamente definidas estão hoje repartidas entre diversos decisores, o que se traduz por uma competição acrescida. Desta maneira, toda a gente tem direito à sua dose de stress. E se a sobrecarga de trabalho surge à frente das causas do stress, para os homens de 25 a 35 anos é sobretudo a ausência de perspectivas de carreira que representa um factor desmotivador. Para as mulheres, a causa principal de stress surge muitas vezes ligada ao seu escasso poder de decisão.
Contudo, em doses moderadas, o stress é um bom estimulante. Dá força e ideias. Os quadros médios e superiores julgam-no mesmo positivo, ao ponto de alguns o aceitarem como método de gestão. Para muitas destas pessoas trata-se de fazer o máximo num mínimo de tempo. O que é bom para a empresa que consegue assim implantar uma cultura que estimula a criatividade, a motivação e o espírito de conquista. Mas, se do ponto de vista da empresa, as vantagens da pressão parecem ser evidentes, o mesmo já não se poderá dizer em relação à maioria das pessoas que lá trabalham, para quem este ambiente cria uma tensão permanente, um sentimento de angústia, o receio de falhar. Das dores de cabeça à depressão
Quando ultrapassa os limites do suportável, o stress pode traduzir-se por desordens internas mais sérias, como dores de cabeça, colites, aumento de peso, insónia crónica, quebra da moral e da energia, podendo chegar ao estado depressivo.
De quem será a responsabilidade? A resposta parece ter origem nas exigências colocadas pela actual globalização da economia. A concorrência para não perder um negócio é de tal ordem que as exigências de rendimento aumentam na vertical ao mesmo tempo que se reduzem os prazos. Tudo isto implica para os quadros constrangimentos acrescidos e, regularmente, uma sobrecarga de trabalho e um constante ultrapassar dos horários. E não falta quem ainda leve trabalho para casa, para se ocupar nas noites livres e nos fins-de-semana.
O stress causado pelo trabalho acaba por ter pesados reflexos na harmonia familiar. Os adultos regressam demasiado tarde a casa, sem tempo para conversarem com os filhos ou entre eles. E, mesmo em férias, os telefones e os computadores portáteis nunca deixam de se fazer sentir. Como uma espécie de cordão umbilical que mantém o trabalhador permanentemente ligado à empresa.
O stress pode igualmente ser provocado pelas condições de trabalho: écrans do computador mal colocados, salas sobreaquecidas, escritórios sobrepovoados, ruídos excessivos, má iluminação. Nalguns países há já consultores de ergonomia, que esclarecem as empresas sobre o que está errado nas condições de trabalho, fazendo naturalmente aumentar a rentabilidade. No entanto, se deslocar um móvel é relativamente fácil, mais complicado é encontrar soluções quando o agente provocador do stress são as relações difíceis com um colega ou um superior hierárquico. Na maior parte dos casos, a vítima vê-se forçada a mudar de lugar de trabalho, de escritório ou até mesmo a pedir a demissão. A hierarquia raramente intervém, considerando que os empregados são já suficientemente adultos para resolverem os seus próprios problemas.
Na verdade, a empresa do futuro deverá interessar-se mais profundamente pelo factor humano: informar, cuidar do ambiente de trabalho, favorecer a liberdade de propostas, reconhecer os esforços realizados, em vez de, como até agora, se preocupar apenas com a qualidade do serviço prestado ao cliente.
A procura do próprio bem-estar passa por uma pequena estrutura e dinâmica que ofereça maior liberdade de decisão e de comunicação.
Embora Portugal seja ainda uma excepção, assiste-se actualmente a um espectacular crescimento do tele-trabalho e uma enorme vontade de evitar as grandes concentrações urbanas, onde as condições de vida e segurança se encontram, muitas vezes, mais degradadas. Esta vontade de viver no campo e o correspondente desejo de afastamento das grandes cidades pode ser entendida como a busca de uma qualidade de vida que se tinha perdido. Na verdade, quem faz este tipo de opção pelas cidades de província procura geralmente uma vida mais tranquila. E, sobretudo, com menos stress.
Diz-se que o correio electrónico, que permite trocar mensagens via computador entre os serviços, os departamentos ou empresas, facilita as trocas de informação, imprimindo-lhes simplicidade e rapidez. Hoje, com a mesma facilidade com que se faz um telefonema envia-se um e-mail. E lá aparece 5, 10, 20 vezes por dia a imagem que anuncia laconicamente: «Tem uma nova mensagem». Mas, na verdade, com o e-mail a comunicação mudou de tom, pois foi simplificada ao máximo, abandonando as formas de polidez, tornando-se cada vez mais utilitária. As pessoas continuam a falar da mesma maneira, mas essencialmente apenas de coisas úteis. Este é um outro factor de stress, porque ao retirarmos qualquer importância à identidade do indivíduo e à sua complexidade, estamos a criar uma frustração importante.

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