quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

DESBAFO PROFÉTICO

Nunca temos tempo para nós, para nos conhecer, para ir mais fundo do que a crosta da vida, porque se pararmos, e fizermos uma incisão mais profunda, a pele ressente-se, o sangue aflora e verte-mos, literalmente tudo aquilo que escondemos, tudo aquilo que realmente somos, tudo o que deixamos para trás, e isso, pode custar-nos encarar a dura realidade, que é sermos feitos de emoções, experiencias e de medos e que não conseguimos estar sós! É mais fácil, confesso, ocupar-me com os outros, com outras vidas, com problemas que são pequenas manchas, pequenos pontos no mapa da nossa vida e não a vida em si. Rodeando-me de pessoas, escondo o meu eu, as minha cicatrizes, os meus pontos a arrebentar, e o sangue degradado que ficou no meio das travessias a que me propus. Fiz a incisão mais profunda, e vi-me a sofrer as dores, a resolver problemas, a dar alegria, a dar o meu ombro, a minha ultima energia a outros. Estava grato por isso, mas não era o suficiente. Algum dia eu teria de ficar a sós comigo e conhecer-me. O primeiro corte é sempre o mais difícil, não se sabe por onde começar, se pelo fim ou pelo inicio. Somos sempre filhos de alguém, pais de alguém, amigos de alguém, familiar de alguém, conhecidos de muitos e estranhos a nós próprios. Eu escondi-me na alegria e bem estar dos meus amigos, no amor que eu sempre soube existir e dei-lhe vida, anulando-me. O que resta disso, é que eu sou um estranho para mim. Por isso, quando insisti em incidir mais na ferida que trago constantemente aberta, renasci para mim. Olhei-me, aos meus olhos e não na visão dos outros. Serão precisas demasiadas operações, cortes, suturas, e tempo de reabilitação. Vivo! Vivo todos os dias para conhecer-me melhor, para me respeitar, para me aceitar. Já cresci, amadureci, só me faltava viver. E isso é o que eu faço hoje! Alheio a outros, livre para todos e com a sólida promessa, a quem realmente tem importância…

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