segunda-feira, 30 de novembro de 2009

VERDADE PROFÉTICA

Certas palavras e expressões às vezes têm o seu sentido deturpado ou reduzido.
Assim ocorre com a disciplina, frequentemente entendida como a submissão a um agente externo.
O termo remeteria à acção que sujeita a vontade de outrem.
Embora a disciplina sob o aspecto exterior seja necessária, ela a tal não se circunscreve.
Na realidade, é sob o prisma interno que a disciplina revela o seu mais rico potencial.
Trata-se de uma virtude que viabiliza a aquisição de todas as outras.
Sem disciplina, não há avanço e transformação moral e intelectual.
O ser indisciplinado permanece como sempre foi, porque os seus vícios e debilidades não encontram firme oposição e os mesmos erros são incessantemente repetidos.
A disciplina actua no plano da vontade, pois ela estabelece regras e define como deve ser o comportamento futuro.
O ser humano disciplinado diz a si mesmo o que deve fazer e mantém-se firme no propósito, e mesmo contra os seus interesses e tendências naturais, segue o programa de melhoramento que se impôs como meta.
A disciplina consiste numa força interior que permite a alteração de velhos hábitos.
Não se trata apenas de decidir ser melhor, mas de colocar em prática o que se decidiu.
Certamente há vacilos, mas logo o ser humano disciplinado retoma o seu projecto inicial, porque ele não se permite desistir, quando percebe a viabilidade da meta que elegeu para si.
As preocupações do ser resumiam-se à preservação da vida e à perpetuação da espécie. O tempo não gasto com a satisfação dessas necessidades era dedicado ao ócio, e assim, o gosto excessivo pelo descanso lembra as fases primitivas da existência imortal. O mesmo ocorre com a preocupação desmedida com a alimentação e o sexo.
Nada há nada de errado com a satisfação das necessidades elementares da vida, num contexto de dignidade.
O vício reside no excesso e na fixação do pensamento em actividades que são meramente instrumentais.
Sem uma vontade firme aplicada na correcção do próprio comportamento, ninguém avança.
Maus hábitos, como maledicência, gula, preguiça e leviandade sexual, não somem por si sós, e eles devem ser corajosamente enfrentados e subjugados.
O abandono dos vícios é lento e doloroso.
No princípio, o esforço necessário é heróico, mas gradualmente se percebe o peso que representam as más tendências.
Surge uma sensação de liberdade e de leveza, com a adopção de um padrão digno de comportamento, e então o que era difícil torna-se fácil e cheio de prazer, porque a disciplina gera a espontaneidade.

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