domingo, 16 de março de 2008
AS TRÊS FRENTES DA FRAQUEZA
O que é que faz que a nossa liberdade não funcione bem? Se repararmos para dentro de nós, encontramos as mesmas causas com pequenas variantes. Por um lado, os bens atraem-nos mais do que o que deveriam. Por outro lado, tendemos a evitar os deveres que exigem um certo esforço, vulgo, preguiça. E a estas duas causas, por assim dizer, interiores ao homem, há uma causa externa que é a pressão do ambiente. Se, por um lado, pode ter efeitos benéficos e educativos, também nos pode levar a actuar contra o que a consciência nos indica, com medo a ir contra o ambiente. Vou pormenorizar.
a) a atracção desproporcionada dos bens. O próprio dos bens é atrair, pois ajudam-nos a sermos melhores. Mas acontece que, com frequência, atraem mais do que é devido e pressionam a nossa consciência: enganam-nos sobre o que nos podem oferecer, com expectativas excessivas; criam-nos dependências ou açambarcam as nossas capacidades.
Nalguns casos, são os instintos, que nos impulsionam com uma paixão desordenada, quase irresistível para os bens primários (comida, conforto, sexo, saúde, etc.). Noutros são bens a que nos afeiçoamos com o seu exercício (trabalho, dinheiro, desporto, etc.). Actuam de modo a "deseducar" os nossos sentimentos. O perigo é que, cada concessão à desordem produz o efeito de realimentação.
Todos os bens, menos os mais altos, podem chegar a ser amados excessivamente, se não estiverem submetidos à razão. Só se conserva a liberdade de decisão, quando se consegue manter sob controle a atracção desproporcionada dos bens. Para isso é necessário respeitar estritamente a ordem devida na tomada de decisões e que cada bem ocupe o seu lugar na escala de valores. São bens. O mal é a desordem com que são queridos.
b) a preguiça. É a tendência a fugir aos deveres, sentir desgosto perante o esforço que o cumprimento das obrigações reclama. Trata-se também de sentimentos "deseducados".
A preguiça é um componente habitual da nossa vida. Diminui a eficácia de todos os trabalhos e faz-se sentir logo que apareça a necessidade de um esforço: quando diminui o gosto pela novidade, quando os trabalhos se prolongam, quando se nota a resistência das coisas.
Pode dizer-se que a eficácia da vida de um homem tem muito a ver com a sua capacidade de vencer a preguiça. Não existe nada de grande nesta vida que não custe esforço. Só aquele que é capaz de vencer-se consegue realizar algo que valha a pena.
Do ponto de vista moral, a preguiça ocasiona muitos males. É causa de uma infinidade de injustiças, imperfeições, atrasos, etc. especialmente nas esferas de actividades em que existe menos aliciantes para o benefício pessoal.
Por isso há quem pense que o único modo de vencer a preguiça é aumentar os benefícios de quem trabalhar mais. Há algo de verdade nisso, mas se fosse só isso, a sociedade seria constituída por "animaizinhos amestrados" e não por homens. O verdadeiro correctivo da preguiça é o espírito de serviço: a firme decisão de orientar a actividade pessoal em serviço dos outros.
c) a pressão social. Além das duas frentes interiores de fraqueza, existe esta exterior, também designada por "respeitos humanos", medo ao ridículo, ao que vão dizer, etc.
O ambiente humano (opiniões, modos de pensar, modelos de conduta, etc.) tem uma grande influência. E não só sob a forma da educação que recebemos, mas também sob a forma de uma pressão inconsciente que se exerce sobre nós como uma força estranha, impessoal e pouco definida.
Também não se trata de um acatar a legítima autoridade: é mais uma violência impessoal que procede de leis não escritas e de autoridades não reconhecidas, que às vezes nos dominam sem que o notemos. O grande argumento é do género todos fazem o mesmo ou todos pensam assim.
As manifestações são muito variadas: não mostrar o nosso verdadeiro modo de ser; rir de um modo forçado de uma piada inconveniente; calar ou sentir-se envergonhado dos nossos princípios, da nossa religião, da nossa raça ou da nossa família; condescender com um capricho injusto de um superior; temer sustentar uma opinião diferente da maioria com temor à troça dos outros, etc.
Toda esta violência irracional condiciona a nossa liberdade. Não se trata de "querer ser diferente" (snobismo?), ou de ser "do contra" por princípio, mas de saber proteger a nossa liberdade e de sermos fiéis à verdade.
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