quarta-feira, 5 de março de 2008

MENSAGEM


Eu já foi criança um dia... mas os anos dobraram-se e fizeram de mim um adulto, quase um idoso...
E agora as pessoas olham-me com um certo desprezo só porque muitos anos dobraram-se para mim e hoje eu sou um quarentão, quase um idoso...
As pessoas observam as minhas mãos quase trémulas e encarquilhadas e se esquecem que foram as primeiras a acariciar mesmo que virtualmente as delas, inseguras na infância.
Criticam os meus passos lentos, vacilantes.
Reclamam quando lhe peço para lerem uma palavra que os meus olhos já não conseguem vislumbrar com precisão, esquecido das várias palavras que eu repeti inúmeras vezes.
Falam da lentidão das minhas decisões.
Dizem que eu sou uma pessoa desactualizada, mas eu confesso que pensei muito pouco em mim e muito nos outros.
Reclamam da minha saúde debilitada, mas creiam, que muito trabalho foi preciso para garantir a felicidade e o bem-estar alheio.
Riem quando não pronuncio correctamente uma palavra, ou quando falo muito em amor e paz, carinho e ternura, amizade e companheirismo, mas eu afirmo que me esqueci de mim mesmo, para que as pessoas pudessem ser um pouco mais felizes.
Dizem que não possuo argumentos convincentes nos meus raros diálogos, todavia, muitas foram as vezes que advoguei em favor das pessoas que precisavam de ajuda e ma solicitaram nas situações difíceis em que se envolviam.
Hoje eu cresci...
Sou um adulto robusto e a juventude já me empolgou as horas...
Esqueci a minha infância, os meus primeiros passos, as minhas primeiras palavras, os meus primeiros sorrisos...
Mas acreditem, tudo isso está bem vivo na memória deste adulto cansado, em cujo peito ainda pulsa o mesmo coração amoroso de outrora...
É verdade que o tempo passou, mas eu nem me dei conta...
Só notei naquele dia... naquele dia em que as pessoas me chamaram de velho pela primeira vez, ultrapassado, e eu olhei no espelho...
Lá estava um adulto de quase cabelos brancos, vincos profundos na face e um certo ar de sabedoria que na imagem de ontem não existia.
Por isso eu vos digo, que o tempo é implacável, e um dia as pessoas de hoje também contemplarão o espelho e perceberão que a imagem nele reflectida não é mais a que hoje admiram...
Mas vocês sentirão que no vosso peito o coração ainda pulsa no mesmo compasso...
Que o afecto que vocês cultivaram não se desvaneceu...
Que as emoções vividas ainda podem ser sentidas como nos velhos tempos...
Que as palavras amargas ainda vos ferem com a mesma intensidade...
E que apesar dos longos Invernos suportados, vocês não ficaram frios diante da indiferença dos seres que embalaram na infância...
É por isso que eu aconselho:
Não riam nem blasfemem do estado em que eu estou, eu já fui o que vocês são hoje, e vocês serão o que eu sou...
Aquele que despreza os mais velhos, é como galho que deixa o tronco que o sustenta tombar sem apoio.
A ingratidão para com os que nos ajudaram e auxiliaram é semente de amargura lançada no solo, para colheita futura.
Assim, não façamos o que gostaríamos que nos fizessem quando a nossa idade já estiver avançada.

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