quarta-feira, 13 de maio de 2009

CONIVÊNCIA

Actualmente, as informações circulam de forma livre e rapidamente.
Por consequência, é possível ter uma noção do conjunto dos valores morais, éticos, e dos hábitos da humanidade.
Certas ocorrências repetem-se com tanta frequência, nos mais diversos locais e ambientes, que chamam a nossa atenção.
E a observação do que ocorre no mundo por vezes causa estupefacção. Uma das coisas que impressionam é a audácia das pessoas desonestas.
Elas parecem ter uma habilidade incomum para se colocarem nas posições mais relevantes. Na política, na educação, nos meios jurídicos e empresarial, a imprensa não cessa de apontar focos de corrupção e desonestidade.
Já é bastante mau haver tantas pessoas desleais, hipócritas, sei lá mais o quê.
Mas o que causa estupefacção é como elas assumem facilmente posições de liderança. Ninguém consegue disfarçar a sua essência por muito tempo.
Quem não possui um nível ético satisfatório evidencia isso em inúmeras oportunidades. Ninguém se corrompe de repente. Ninguém é hipócrita de um dia para outro. Ninguém é desleal, porque acordou assim.
Uma pessoa genuinamente honesta não acorda um dia disposta a apoderar-se do que não lhe pertence.
O ser humano revela as suas mazelas morais ao longo do tempo.
Sendo assim, como é possível que seres viciosos tornem-se tão influentes?
Em todo e qualquer ambiente, há homens íntegros e inteligentes.
Por que esses não agem, para obstar a influência perniciosa?
À primeira vista, parece pouco caridoso evidenciar os vícios de um semelhante, para limitar a sua ascensão.
Ocorre que a caridade não possui como bandeira a ingenuidade e a conivência.
Constitui equívoco imaginar que o homem bondoso deve ser tolo e falho de percepção. A criatura íntegra e generosa procura ser um factor de progresso e bem-estar no mundo. Mas age com critério e discernimento, não de forma piegas.
Nessa delicada questão, importa considerar o móvel da acção e o quanto bem ela pode produzir.
Certamente é condenável divulgar os defeitos do próximo por malevolência, com o propósito de denegri-lo.
Mas também é censurável prestigiar a comodidade de um único ser, em detrimento de inúmeros outros.
A corrupção que atinge um ambiente prejudica a todos os que se vinculam a ele. O dinheiro público roubado por alguns faz falta na construção de hospitais e escolas. O desfalque realizado numa empresa talvez seja a causa da sua falência.
Trata-se da vantagem desonesta de uma pessoa causando a penúria de muitas outras. A compaixão não justifica a inércia perante este tipo de situação. Nada há de louvável em assistir-se silenciosamente a actos desonestos que prejudicam o meio social. Na verdade, a timidez e a acomodação dos homens íntegros favorece a preponderância dos desonestos. Grande parcela da culpa pela corrupção que grassa no mundo deve-se às pessoas honestas. Caso estas desejassem, preponderariam.
Quando o vício for combatido, sem ódio, mas firmemente, ele encontrará pouco espaço para proliferar.
É preciso ter compaixão pelo delinquente, mas jamais compactuar com os seus actos. Assume, pois, a tua responsabilidade perante o mundo em que tu vives.
Por timidez ou preguiça de desempenhar tarefas e ocupar postos, não permitas que eles caiam em mãos indignas. A título de ostentar virtude, não simules ignorância e nem sejas conivente.

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