terça-feira, 28 de julho de 2009

FRANCISCO MANUEL LUMBRALES DE SÁ CARNEIRO

QUERO HOJE AQUI HOMENAGEAR UM DOS MAIORES POLÍTICOS QUE PORTUGAL JÁ TEVE, E SE TIVESSE VIVO FAZIA 75 ANOS NO DIA 19 DE JULHO DESTE ANO.

Francisco Manuel Lumbrales de Sá Carneiro nasceu no Porto a 19 de Julho de 1934.
Cresceu no seio de uma família da alta burguesia. Aos 22 anos concluiu o curso de direito na universidade de Lisboa, e principiou a sua vida profissional exercendo advocacia. Católico praticante, frequentou os círculos mais progressistas da Igreja. Foi aqui que começou a defender publicamente a transformação do regime numa democracia parlamentar.
Em 1969, foi eleito deputado pelas listas da Acção Nacional Popular, o partido único, à Assembleia Nacional em nome da defesa dos direitos do homem, da instauração de um regime democrático e da efectivação das liberdades públicas. Sá Carneiro foi um dos membros destacados da ala liberal do parlamento, durante a “primavera marcelista”. Tomou iniciativas que tinham como objectivo a criação de uma democracia típica da Europa Ocidental. Colaborou com Mota Amaral na elaboração de um projecto de revisão constitucional, apresentado em 1970. Percebendo que não atingiria os seus fins, preferiu renunciar ao mandato de deputado a 2 de Fevereiro de 1973.
Destacou-se após este período a sua coluna no jornal Expresso "Vistos" cuja publicação foi rareando, por crescentes dificuldades impostas pela censura.
Nesse mesmo ano, a sua vida pessoal enfrentou um terramoto. Conheceu, num restaurante de Lisboa, a editora dinamarquesa Snu Abecassis. Apaixonaram-se imediatamente. Contra tudo e contra todos, Sá Carneiro não abdicou da promessa daquele amor. Decidiu não respeitar o protocolo da época e rompeu um casamento de décadas. Foi, de alguma forma, um revolucionário no amor. Para a sociedade de então, foi um escândalo. Para o publicitário Manuel Margarido, Sá Carneiro fez uma ruptura “extraordinariamente revolucionária”. Provou que o amor pode revelar-nos.
Em Maio de 1974, com Francisco Pinto Balsemão e José Magalhães Mota, fundou o Partido Popular Democrata (PPD) e assumiu as funções de Secretário Geral. Nomeado Ministro sem pasta em diversos governos provisórios, seria eleito deputado à Assembleia Constituinte no ano seguinte, e em 1976 eleito para a I Legislatura da Assembleia da República.
Foi ministro adjunto do primeiro ministro no I Governo Provisório, chefiado por Adelino da Palma Carlos. Em 1975 foi eleito deputado à Assembleia da República, mas não chegou a exercer o mandato por motivos de saúde.
Voltou a ser eleito deputado em 1976, ano que assumiu a chefia da bancada parlamentar.
No IV Congresso do partido, em Outubro de 1976 foi eleito presidente do PPD e, em Novembro de 1977, na sequência de convulsões internas do partido, demitiu-se do cargo de presidente, mas seria reeleito no ano seguinte para desempenhar a mesma função.
Em Janeiro de 1978, no V Congresso, no Porto, afastou-se voluntariamente de qualquer cargo directivo, tendo sido eleito para o Conselho Nacional.
Em 5 de Julho de 1979, com Freitas do Amaral, do CDS, e Ribeiro Teles, do PPM (além dos Reformadores) forma a Aliança Democrática, que lidera com o objectivo de derrotar a "maioria de esquerda" nas eleições legislativas intercalares de Dezembro de 79, após a dissolução da Assembleia da República.
A coligação vence as eleições legislativas desse ano com maioria absoluta. Dispondo de uma ampla maioria a apoiá-lo, a maior coligação governamental até então desde o 25 de Abril, foi chamado pelo Presidente da República Ramalho Eanes para liderar o novo executivo, tendo sido nomeado Primeiro-Ministro a 3 de Janeiro de 1980, sucedendo assim a Maria de Lurdes Pintasilgo.
Sá Carneiro não concorda com a recandidatura de Ramalho Eanes e afirma que se demitirá do cargo de Primeiro Ministro, caso este seja eleito. A Aliança Democrática apoia o general Soares Carneiro.
Francisco Sá Carneiro faleceu na noite de 4 de Dezembro de 1980, em circunstâncias trágicas e nunca completamente esclarecidas, quando o avião no qual seguia se despenhou em Camarate, pouco depois da descolagem do aeroporto de Lisboa, quando se dirigia ao Porto para participar num comício de apoio ao candidato presidencial da coligação, o General António Soares Carneiro. Juntamente com ele faleceu o Ministro da Defesa, o democrata-cristão Adelino Amaro da Costa, bem como a sua companheira Snu Abecassis, para além de assessores, piloto e co-piloto e da própria esposa do Ministro da Defesa.
Francisco Sá Carneiro conseguiu conciliar inúmeras características, todas elas raras num governante português. Sá Carneiro gostava do poder. Lutava por ele e nessa luta dava tudo o que tinha. Arriscava. Avançava e recuava. Baralhava os adversários e surpreendia os aliados. Tinha um projecto em mente, mas adaptava a estratégia de acordo com a maré do momento. Era um animal político excepcional. A juntar-se a esta inestimável qualidade, Sá Carneiro não queria o poder pelo poder, mas com o intuito de o usar para os fins que considerava dignos.
Foi um dos políticos mais marcantes do século XX português. A luta pela democracia norteou-lhe a vida. Foi um herói romântico que desafiou os preconceitos da sociedade onde vivia.
Era um homem com fortes convicções e um enigmático carisma. O seu entusiasmo contagiava. Fez parte do restrito lote de políticos que foram admirados por amigos e adversários. Assumiu com frontalidade a sua visão para o País. De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, o seu objectivo era “a construção de um estado democrático integrado na Europa”. Foi um elo entre dois mundos: espalhou a utopia de um país livre e recebeu apoio amplo da comunidade nacional.
A acção política de Francisco Sá Carneiro durou apenas uma década, mas deixou marca. Foi o “fundador da direita democrática”, afirma António Costa Pinto, professor do Instituto de Ciências Sociais. Nunca teve receio de rupturas. Em nome de um Portugal moderno e democrático.
Sá Carneiro foi autor de várias obras, das quais se destacam:
- Uma Tentativa de Participação Política (1973);
- Por uma Social-Democracia (1975);
- Poder Civil, Autoridade Democrática e Social-Democracia (1975);
- Uma Constituição para os Anos 80: Contributo para um Projecto de Revisão (1979).
Para avaliarmos o seu pensamento, no seu primeiro discurso político, Sá Carneiro, proferido numa sessão de propaganda eleitoral em Matosinhos em 12 de Outubro de 1969, afirmou: “Desde a educação e futuro dos nossos filhos às nossas próprias condições de trabalho e de vida, desde a liberdade de ideias à liberdade física, aquilo que pensamos e queremos coloca-nos directamente ante a política: seja em oposição frontal à seguida por determinado Governo, seja de simples desacordo, seja de apoio franco. Porque somos homens, seres inteligentes e livres chamados a lutar pela realização desses dons na vida, formamos a nossa opinião e exprimimos as nossas ideias, pelo menos no círculo de pessoas que nos cercam. Mas se nos limitarmos a isso, se nos demitimos da intervenção activa, não passaremos de desportistas de bancada, ou melhor, de políticos de café. Creio que, se todos quisermos, podemos eficazmente aproveitar a oportunidade que nos é dada de obter as reformas necessárias sem quebra da ordem pública, sem atropelos das consciências, nem violências sobre as pessoas.”

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