quarta-feira, 30 de abril de 2008

E DEPOIS?


O ser humano é o único dotado de razão, por isso é chamado de racional.
Ser racional é raciocinar com sabedoria, é saber discernir, é pensar, utilizando o bom senso e a lógica antes de qualquer atitude.
Todavia, boa parte de nós não age com a sabedoria necessária para evitar problemas e dissabores perfeitamente evitáveis.
Usualmente, agimos antes e pensamos depois, tardiamente, quando percebemos que os resultados da nossa acção nos deixa infelizes.
Paulo, o Apóstolo, que tinha a lucidez da razão, adverte com sabedoria: "tudo me é lícito, mas nem tudo me convém".
Quis dizer com isso que tudo nos é permitido, mas que a razão nos deve orientar de que nem tudo nos convém.
Do ponto de vista físico, quando comemos ou bebemos algo que nos faz mal, não pensamos no depois, mas o depois é fatal.
Se nosso organismo é frágil a certos tipos de alimento, devemos pensar nas consequências antes de ingeri-los, mesmo que a nossa vontade diga o contrário.
Perguntemo-nos: e depois? Como será depois?
Lembremos da gaseificação, do mal-estar e de outros distúrbios que advirão.
Se temos vontade de fazer uso de drogas, sejam elas socialmente aceites ou não, devemos pensar antes no depois. Será que suportarei corajosamente as enfermidades decorrentes desses vícios? Ou será um preço muito alto por alguns momentos de satisfação?
Quando sentimos vontade de usar o cartão de crédito, pela facilidade que ele oferece, costumamos pensar no depois? Pensar em como vamos pagar a conta?
Quando recebemos o convite das propagandas para o consumo desenfreado, ponderamos racionalmente sobre a necessidade da aquisição, ou compramos antes para constatar, logo mais, que não necessitamos daquele objecto?
No campo da moral não é diferente.
Quando surgir a vontade de gozar alguns momentos de prazer, devemos pensar: e depois?
Quais serão as consequências deste acto que desejo realizar? Será que as suportarei corajosamente, sem reclamar de Deus nem jogar a responsabilidade sobre os outros?
Certo dia, conversando com um fiscal aposentado, ouvimo-lo falar a respeito do vazio que sentia na intimidade e da consciência marcada pelos actos inconsequentes que praticara durante a vida.
Buscou, na actividade profissional, tirar proveito de todas as situações. Arranjava tudo com algum "jeitinho" e com muita propina, mas nunca tinha pensado no depois.
E o depois chegou. A velhice o alcançou como alcança as pessoas honestas, mas a sua consciência trazia um peso descomunal, e uma sensação desconfortável invadia-lhe a alma.
Não conseguia olhar nos olhos dos filhos e netos, sem pensar no quanto havia sido menos escrupuloso. Sem pensar no tipo de sociedade que havia construído para legar aos seus afectos, aos seus descendentes.
Dessa forma, antes de tomar qualquer atitude, questionemos a nós mesmos: e depois?
É melhor que resistamos por um momento e tenhamos paz interior, do que gozar um minuto e termos o resto da vida para nos arrepender.

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