quinta-feira, 12 de março de 2009

COM SAÍDA

Saio do meu corpo,
e espreito-o sem grande habilidade.

Ele abandona a sala,
caminha pelos cómodos,
e eu fico no umbral das portas,
observando as suas escamoteações e resmungos.

Estou longe do meu corpo,
percebo a sua trajectória desanimada,
o mistério da sua raiva.
Ele também me procura tacteando as paredes,
cabra-cega, corpo-cego, édipo sedento.

Jogo sobre ele redes e mensagens,
Ele é o peixe que busca o seu anzol,
Ele disfarça-se de mim,
e revela ao mundo os meus pensamentos inúteis: compartilhamos o mesmo torcicolo.

Quando me reaproximo do meu corpo,
ele me injecta a repreensão do amor,
Talvez desejasse uma vingança,
Mas sou perdoado com um gesto de menino.

Na tarde mais amena,
vedamos a entrada da alma
por meio do corpo mesmo.

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