sábado, 12 de setembro de 2009

A SOLIDÃO


Existem dias em que sentimos com mais intensidade o fardo da solidão.
À medida que me elevo, monte acima, no desempenho do próprio dever, experimento a solidão dos cumes e uma profunda tristeza dilacera-me a alma sensível.
Onde se encontram os que sorriam comigo no parque primaveril da primeira mocidade?
Onde pousam os corações que procuravam de mim o aconchego nas horas de fantasia?
Onde se acolhem quem partilhava o pão e o sonho, nas aventuras felizes do início?
Por certo, ficaram...
Ficaram no vale, voando em círculo estreito à maneira das borboletas douradas, que se esfacelam ao primeiro contacto da menor chama de luz que se lhes descortine à frente.
Em torno de mim, a claridade, mas também o silêncio...
Dentro de mim, a felicidade de saber, mas igualmente a dor de não ser compreendido.
A minha voz grita sem eco e o meu anseio se alonga em vão.
Entretanto, se realmente subo, que ouvidos me poderiam escutar a grande distância e que coração faminto de calor do vale se abalançaria a entender, de pronto, os meus ideais de altura?
Choro, indago e sofro.
Contudo, que espécie de renascimento não será tão doloroso?
A ave, para libertar-se, destrói o berço da casca em que se formou, e a semente para produzir, sofre a dilaceração na cova desconhecida.
A solidão, com o serviço aos semelhantes, gera a grandeza.
A rocha que sustenta a planície costuma viver isolada e o sol que alimenta o mundo inteiro brilha sozinho.
Não me canso de aprender a ciência da elevação.
Lembremo-me de Jesus Cristo, que escalou o calvário de cruz aos ombros feridos, e ninguém o seguiu na morte afrontosa, à exceção dos dois malfeitores, constrangidos à punição em obediência à justiça.
Não relaciono os bens que por ventura já estiver espalhado.
Confio no infinito bem que me aguarda.
Não espero pelos outros, na marcha de sacrifício e engrandecimento, e não me olvido que, pelo ministério da redenção que exerceu para todas as criaturas, Jesus Cristo não viveu somente, pois lutou e sofreu sozinho, mas também foi perseguido e crucificado.
O sacrifício na cruz é a mais bela lição de resignação que Ele nos legou.
Sem nenhuma imposição disse-nos: "quem quiser vir após mim, tome a sua cruz, negue-se a si mesmo e siga-me.", o que equivale a dizer que tomemos a cruz dos nossos sofrimentos com abnegação, e escalemos a montanha da nossa ascensão espiritual.
Se não temos connosco as marcas do testemunho pela responsabilidade, pelo trabalho, pelo sacrifício ou pelo aprimoramento íntimo, tudo é possível.

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