sexta-feira, 16 de abril de 2010

OS HÁBITOS FAMILIARES E A TRANSMISSÃO DOS VALORES


Justiça, igualdade, tolerância… São palavras que cada dia mais se escutam nas escolas. A “Educação nos Valores” já está presente no curriculum escolar, mas isso não é suficiente. Ficar no nível teórico não serve de nada. E, na prática, esquecemos frequentemente que palavras tão grandiosas como “Empatia” ou “Respeito” se traduzem em premissas tão singelas como “não atirar papéis para o chão”, “ceder o assento a quem mais o necessite” ou “abrir a porta a quem vai carregado”.
Que a “Educação nos Valores” tenha chegado às escolas é um passo que realmente devemos celebrar: Saber ser pessoa, é mais importante, do que saber resolver integrais ou saber em que ano começou a Revolução Francesa. Entretanto, enquanto que a instrução e formação intelectual é um objectivo a conseguir primordialmente através da escola, a educação e desenvolvimento pessoal é-o através da família.
Nunca devemos esquecer que o lar é o autêntico formador de pessoas. As crianças aprendem continuamente através dos seus pais, não só o que estes lhes contam, mas também, sobretudo, pelo que vêem neles, como actuam, como respondem perante os problemas. Em definitivo, as crianças observam e copiam o proceder dos seus pais perante a vida. A autêntica educação nos valores transmite-se, passa dos pais para os seus filhos desde o dia do nascimento até ao final da vida. Não obstante, tem uma importância relevante durante os primeiros anos. Até aos seis ou sete anos de idade as crianças possuem uma moral denominada “heterónima”, ou seja, a sua motivação para fazer as coisas de uma maneira ou de outra é corresponder ao queo papá e a mamã desejariam: o que dizem os pais são “verdades absolutas”. Conforme crescem vão compreendendo melhor por que é importante actuar de certa forma e não de outras, mas seguem, sempre, guiando-se pelo que vêem em casa, especialmente até aos doze anos. Daíí a tremenda importância de educar as crianças através do exemplo, para desenvolver uma educação cívica.

Faz o que eu faço
Todos temos na mente uma ideia de como gostaríamos que fosse a sociedade, em que mundo queremos que vivam os nossos filhos: um sitio limpo, em que as pessoas se ajudem e respeitem, onde todos tenhamos os mesmos direitos… Depois saímos à rua pensando no trabalho, nas compras, na ortodoncia do menino e esquecemo-nos de todos esses bons propósitos. De repente, queremos ser os primeiros a sair do metro, incomoda-nos o carro que torna lenta a circulação, esquecemo-nos de dar os bons dias ao porteiro… e assim, dia após dia, diante o olhar sempre atento das crianças, que, já se sabe, absorvem tudo como esponjas.
Já comentámos que, até os doze anos aproximadamente, o lar é a principal fonte de valores, direitos e deveres da criança. Agora também terá que se dizer que há coisas que dificilmente se aprendem mais tarde. Se em pequenos não nos acostumamos a guardar o pacote no bolso quando não há um cesto de papéis à mão, a não pôr a música muito alta para não incomodar o vizinho, a dizer obrigado quando nos fazem um favor ou a não insultar os que são diferentes, será mais complicado aprendê-lo mais tarde. Porque o civismo, o respeito, a honestidade e todos os valores humanos são em grande medida hábitos, rotinas que aprendemos em família, de forma inconsciente, e que mais adiante chegamos a valorizar com a reflexão que permite a maturidade.
Por isso, a melhor forma de transmitir valores, de aprender a viver em sociedade, é não aplicar jamais a tão popular frase de “faz o que eu digo e não o que eu faço”. Se quisermos que nossos filhos alcancem essa sociedade tão sonhada devemos começar por criá-la nós mesmos e “fazer o que dizemos”.

Que “hábitos-valores” fomentar?
Decerto que vocês mesmos têm a resposta. Só têm que pensar que tipo de pessoas gostariam que fossem os vossos filhos e actuar em consequência. Como vimos, a coerência entre as ideias que querem transmitir e a forma como se actua em casa é a chave principal.
A maioria das pessoas considera como nobres os mesmos tipos de valores. Entretanto, às vezes é difícil reconhecer em nós mesmo onde encaixa a conexão entre “crenças” e “forma de ser”. Estes conselhos podem ajudar a reflectir sobre isso:
Se quiserem que o vossofilho seja uma pessoa razoável, raciocinem com ele desde o primeiro dia. Não utilizem o “porque eu digo”. Logicamente haverá muitas ocasiões em que tenham que lhe ordenar as coisas, mas sempre podem argumentar o motivo.
O respeito onde primeiro se observa é entre os pais. As decisões no casal devem ser sempre compartilhadas. Se discutem, façam-no de forma tranquila, sem recriminar. Saber viver em sociedade é saber aceitar as opiniões distintas.
Onde mais se fomentam os estereótipos é no lar. Pensaram alguma vez em coisas como quem limpa a casa?, quem troca as lâmpadas?, etc. Tratem de compartilhar entre vós os distintos papéis.
Se se preocuparem com as influências externas pensem que têm uma arma muito importante ao vosso alcance: os vossoscomentários. Falem com o vossofilho sobre a opinião que merecem as actuações dos outros (tanto no positivo como no negativo). Isto é importante, sobretudo, contra a influência da televisão.

Compreender ajuda a aprender
Os valores transmitem-se através do exemplo, mas assentam com força, graças à compreensão de que são necessários. Como podemos ajudar uma criança pequena a perceber esta importância? Uma boa maneira é aplicar a fórmula de “faz pelos outros o que gostarias que fizessem por ti, e não lhes faças o que não gostarias que te fizessem”. Por outras palavras, colocar as crianças na hipótese de serem eles os protagonistas de certas atitudes. É muito mais eficaz para que o vosso filho a entenda, dizer-lhe: “Gostarias que se rissem de ti porque usas óculos? como te sentirias?”, do que lhe dizer simplesmente: “Não deves rir do João por ter aparelho nos dentes”.

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