sexta-feira, 29 de abril de 2011

DISCIPLINA

Certas palavras e expressões têm às vezes o seu sentido deturpado ou reduzido.
Assim ocorre com a disciplina, frequentemente entendida como submissão a um agente externo.
O termo remeteria à acção que sujeita a vontade de outrem.
Por exemplo, o pai que impõe disciplina no seu filho ou o comandante que conduz as suas tropas sob um severo regime disciplinar.
Embora a disciplina sob o aspecto exterior seja necessária, ela a tal, severa, não se circunscreve.
Na realidade, é sob o prisma interno de cada ser humano que a disciplina revela o seu potencial mais rico, tratando-se de uma virtude que viabiliza a aquisição de todas as outras.
Sem disciplina, não há avanço nem transformação moral e intelectual.
O ser indisciplinado permanece como sempre foi, porque os seus vícios e debilidades não encontram firme oposição e os mesmos erros são repetidos incessantemente.
A disciplina actua no plano da vontade, estabelecendo regras e definindo como deve ser o comportamento futuro.
O homem disciplinado diz a si mesmo que deve fazer e mantém-se firme no propósito, mesmo contra os seus interesses e tendências naturais, seguindo o programa de melhoramento que impôs como meta.
A disciplina consiste numa força interior que permite a alteração de velhos hábitos, não se tratando apenas de decidir ser melhor, mas de colocar em prática o que se decidiu como projecto de vida.
Certamente há desvios, mas logo o homem disciplinado retoma o seu projeto inicial.
Ele não se permite a si próprio desistir, quando percebe a viabilidade da meta que escolheu para si.
No longo processo de aprendizagem, o ser humano comete muitos equívocos e desenvolve maus hábitos, e certas tendências do pretérito remoto ainda hoje se fazem presentes nas pessoas.
As preocupações do ser resumiam-se à preservação da vida e à perpetuação da espécie.
O tempo não gasto com a satisfação dessas necessidades era dedicado ao ócio, ao vício.
Assim, o gosto excessivo pelo descanso lembra as fases primitivas da existência imortal.
O mesmo ocorre com a preocupação desmedida com alimentação e sexo.
Nada há de errado com a satisfação das necessidades elementares da vida, num contexto de dignidade.
O vício reside no excesso e na fixação do pensamento em actividades que são meramente instrumentais.
A destinação da espécie humana é divina e dotada de sentimentos, c competindo-lhe vencer a si mesmo, libertar-se de hábitos primários e preparar-se para experiências profícuas do intelecto e do sentimento.
Assim sendo, isto só ocorre e somente é possível com muita disciplina.
Sem uma vontade firme aplicada na correção do próprio comportamento, ninguém avança.
Maus hábitos, como indisciplina, gula, preguiça e leviandade sexual, não desaparecem por si sós.
Eles devem ser corajosamente enfrentados e subjugados.
O abandono de vícios é lento e doloroso.
No princípio, o esforço necessário é tenebroso, mas gradualmente percebe-se o peso que representam as más tendências, surgindo uma sensação de liberdade e de leveza, com a adopção de um padrão digno de comportamento.
Então, o que era difícil torna-se fácil e cheio de prazer, porque a disciplina gera a espontaneidade.

Só consegue ser disciplinado e ter disciplina, quem possuir um código de conduta, de valores e professar as mais altas virtudes da honra e da dignidade.

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