terça-feira, 23 de dezembro de 2008

JANELAS DA VIDA (Chafic Jbeili)



Conto uma história de uma jovem que morava em uma casa simples entre o vale e a colina. Sempre que podia, essa jovem se dirigia para os fundos da casa e ficava debruçada na janela olhando as tralhas que acumulavam no quintal. Sua visão era limitada e sombria, pois o fundo da casa dava para uma parede de pedras e ali o sol mal conseguia iluminar. Vez ou outra os olhos da jovem acompanhavam atentamente os movimentos da aranha e das cobras que habitavam as pedras.
Com o passar dos anos os ânimos e a vitalidade dessa jovem iam desfalecendo pouco a pouco e seu semblante era entristecido, até o dia em que um senhor peregrino andava errante por aquelas bandas e resolveu pedir um pouco de água. Enquanto bebia e descansava o homem resolveu indagá-la, com todo respeito, o motivo de sua aparência triste e sem vida.
Ela dizia: "Não é alegre o meu coração. Passo os meus dias olhando as tralhas que se acumularam em meu quintal ao longo dos anos e agora minha companhia são as pedras, as aranhas e as peçonhentas cobras da montanha. Venha meu senhor e veja de minha janela os motivos de minha angústia e de minha tristeza. Tenho ou não tenho razão de estar assim?".
Concordando, o homem perguntou-lhe se naquela casa havia mais janelas e a moça respondeu afirmativamente e foi logo mostrando cada uma delas. Ao chegar à janela que dava para o vale, o homem avistou uma paisagem deslumbrante, bem característica de um vale cinematográfico, com rio, cascata, árvores floridas, águias cantando em revoada no céu e um lindo por do sol no límpido e extenso horizonte. O infinito era um convite à imaginação!
A própria jovem ficou fascinada com tamanha beleza e enquanto seu semblante mudava radical e instantaneamente o fôlego de vida ia se restabelecendo em sua expressão. Ela mesma não parava de se questionar porque havia adquirido o hábito de permanecer por tanto tempo debruçada na tenebrosa janela dos fundos e agradeceu o velho por sua acidental, mas oportuna presença.
O homem então sorrindo entendeu o motivo e a razão de seu incidente e agradeceu a jovem que sem entender perguntou como podia ele se alegrar com a própria falta de sorte, já que estava ali por um erro de direção. O velho sábio respondeu: Às vezes, acontecem coisas tão maravilhosas quando tudo dá errado que não teriam acontecido se tudo tivesse dado certo.

Moral da história:
A nossa vida é como aquela casa da colina: Existe a janela que dá para um passado sombrio, com algumas pessoas que nos causaram dores; com amargas lembranças das conquistas quase realizadas; das perdas vivenciadas, entre outras mazelas da vida. Essas são as nossas tralhas mentais, que naturalmente se acumulam à medida que a vida passa!
Mas em nossa vida também existe a janela da frente, que dá para um horizonte belíssimo, extenso, cheio de oportunidades, de grandes possibilidades, de novas realizações e que renovam nossas esperanças dia a dia, revigorando os ânimos e tornando nossas expressões cintilantes. Cabe a nós escolher em qual janela queremos permanecer debruçado.
Eu já fiz a minha escolha e quero viver fascinado curtindo o meu presente e idealista em relação ao meu futuro. Do passado só quero a experiência que me fortaleceu e me fez ser quem eu sou hoje. E você? Em qual janela escolherá ficar? A que te adoece ou a que te revigoram os ânimos? Então, sempre que uma lembrança ou pensamento ruim lhe vier à cabeça experimente mudar de janela!


Abraços,
Chafic Jbeili

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