terça-feira, 30 de junho de 2009

DESABAFO PROFÉTICO

A mentira é relativa,
não a verdade, palavra provocativa, concreta,
que irrita a hipocrisia,
irrompe e racha a terra, rumo,
e risco do raio, explosivo riso.

A mentira é individual,
não a verdade, válida para general, e soldado,
para homem e animal,
cujas patas e sapatos pisam,
a poeira e as pedras do imparcial planeta.

A mentira é estática,
não a verdade – a verdade matemática,
por exemplo,
acelera máquinas,
que inovam os ventos,
Inventam novos movimentos,
movem rápidos instrumentos.

A mentira dói,
não a verdade, bálsamo, doce voz,
carinho que transforma o eu em nós,
cura a doença, cala o rancor,
Carrega connosco a cruel jóia da cruz.

A mentira é nua e crua,
não a verdade, na verdade da paz,
invencível na luta,
leve alimento que levanta,
alivia, lenifica, nutre e alumia.

A mentira parece verdade,
não a verdade, que nada imita e arde o seu fósforo,
e cresce em progressivo alarde,
queimando madeiras e canteiros,
Incendiando feiras, aldeias e cidades inteiras.

A mentira é dona da verdade,
não a verdade, que nada perde e invade tudo,
apropriando-se da propriedade privada e pública,
pelo prazer de perder sem possuir a possibilidade da perda.

A mentira é profunda,
não a verdade, rio do qual se vêem o fundo e os peixes,
e em que todo mundo nada,
mata a saudade da água clara,
salta descalço, e onde nem se afunda o incauto.

A mentira é tristonha,
não a verdade, que a nada se contrapõe ou nega,
antes afirma ser sonho o sonho,
e sandice a sandice, e saúde,
a saúde, e solução o que soluciona cisões.

A mentira é dura,
não a verdade, macia escravatura que liberta,
antepondo a consciência à censura,
e o dever ao dever com prazer,
e o prazer como dever ao puro prazer.

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