quinta-feira, 11 de março de 2010

O PAI AUSENTE

Análise dos efeitos psicológicos que o abandono da responsabilidade educativa do pai pode ter sobre o desenvolvimento dos filhos.
Tanto a criança como o adolescente sentem a necessidade de ambos os pais, e sobretudo da vitalidade e do senso comum da mãe. À margem de toda e qualquer especulação ou polémica científica, bastaria que o pai e a mãe actuassem em comum e de forma criativa, que se completassem um ao outro espontaneamente, e que tivessem em conta que nenhum deles pode ser substituído pelo outro.
A presença activa do pai revela-se cada vez mais necessária para um crescimento equilibrado dos filhos.
Em épocas anteriores à nossa, os filhos dos trabalhadores dos campos, que é o mesmo que dizer todas as crianças, tinham o pai sempre a seu lado e podiam observá-lo enquanto ele trabalhava. Quase sem darem por isso, absorviam o seu carácter e os seus ensinamentos. Depois, os ritmos intensos da vida industrial e pós-industrial, privaram-nos dessa constante, laboriosa e paciente figura educativa. Agora, o pai trabalha longe do espaço vital da família, num mundo que é alheio aos filhos, onde desenvolve uma actividade para eles completamente incompreensível.
O pai tem além disso que atender a outras necessidades durante o tempo livre, se não quiser ficar excluído da vida social, cultural e religiosa, para não falar do desporto, dos hobbies e das diversas associações a que pode estar ligado. Resulta daqui, que mesmo depois do trabalho, raras vezes está presente na infância e adolescência dos seus filhos.
Considero ainda que tanto o stress da vida, como a concepção patriarcal,mais difundida do que se pensa, limitam ainda mais a difícil e desejada presença activa do pai. Quando muito, ser-lhe-á possível brincar um pouco à tarde com eles, ou exercer pessoalmente a sua autoridade, como única garantia da ordem doméstica, ao fim de um dia de trabalho. O pai precisa de sossego.
Com este tipo de relações familiares não se pode estabelecer entre os filhos e o pai nenhum vínculo vital.
Quando o marido é um pai ausente, a mulher sente-se impotente, incompreendida e insatisfeita, como mulher e como educadora. Em tais condições, é quase inevitável que o desenvolvimento dos filhos se retraia e sofra desvios.
A mulher concentra então todas as suas energias egocêntricas sobre a criança ou sobre o adolescente, que se convertem deste modo em vítimas indefesas de uma situação opressiva. O filho perde a sua própria identidade e passa a ser simplesmente o refúgio, o consolo, a honra e coroa do insatisfeito amor de mãe, sendo o filho quem lhe proporciona o que não obtém no matrimónio.
A mãe quer controlar toda a trajectória do filho sem perigos de qualquer tipo. Uma ideia fixa da sua saúde física, baseada num formalismo rigoroso, último refúgio das pessoas sem ânimo, vai modelando pouco a pouco o protótipo do filho mimado. Este, acostumado a preocupar-se sobretudo consigo mesmo, habitua-se, por exemplo, a dar uma importância desproporcionada à comida, que se converte num sistema de defesa contra a enfermidade. Boa saúde converte-se em sinónimo de estar gordo, e segurança, em eliminação de qualquer imprevisto. Estes curto-circuitos banais, mas contundentes, impedem a vitalidade e inibem o espírito de qualquer iniciativa tanto nos jovens como nas crianças.
A mãe, omnipresente, deve controlar tudo, decidir tudo, vigiar ansiosamente as ocupações dos filhos. A própria vocação destes deve satisfazer as concretas ambições da mãe, que com o rodar dos anos, continuará a intrometer-se nos assuntos íntimos do filho, que já não é um menino mas um adulto, talvez casado e com descendência. Este, por sua vez, não se atreve a exercer a sua autonomia responsável donde brota a maturidade, e continuará agarrado às saias da mãe, mas incapaz de a amar verdadeiramente.
Para finalizar, quem está ausente na educação dos seus filhos, mais precisamente a figura mítica do pai, acaba sempre por colher os frutos daquilo que semeou no passado e presente.

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