segunda-feira, 19 de outubro de 2009

ALMA SENTIDA


Há noites muito escuras em que o vento violento e ruidoso traz a tempestade incinerante. Os trovões e os relâmpagos invadem a madrugada como se fossem durar para sempre. Não há como ignorar os sentimentos que tomam de assalto os nossos frágeis corações. O medo e a incerteza tiram o nosso sono, e passamos minutos infindáveis, imaginando o pior, temerosos de que o céu possa, de um momento para o outro, cair sobre as nossas cabeças. No entanto, sem qualquer aviso, o vento vai-se acalmando, as gotas de chuva começam a cair com menos violência e o silêncio volta a imperar na noite. Adormecemos sem nos darmos conta do final da intempérie, e quando acordamos, com o sol da manhã a beijar-nos a face, nem sequer nos recordamos das angústias da noite. Os galhos caídos na calçada, a água ainda em poças na rua, nada nem nenhum sinal é suficientemente forte para que nos lembremos do temporal que há poucas horas nos assustava tanto. Assim ainda somos nós, criaturas humanas, presas ao momento presente. Descrentes, a ponto de quase sucumbir diante de qualquer dificuldade, seja uma tempestade ou revés da vida, por acreditar que ela poderia nos aniquilar ou ferir irremediavelmente. Seres humanos de pouca fé, eis o que somos. Continuamos ligados à matéria, acreditando que a nossa felicidade depende apenas de tesouros que as traças roem e que o tempo deteriora. Permanecemos sofrendo por dificuldades passageiras, como a tempestade da noite, que por mais estragos que possa fazer nos telhados e nos jardins, sempre passa e tem a sua indiscutível utilidade. Somos como crianças que ainda não se deram conta da grandiosidade do mundo e das verdades da vida. Almas aprendizes que se assustam com trovões e relâmpagos, que nas noites escuras da vida, fazem-nos lembrar da nossa pequenez e da nossa impotência diante do todo. Se ainda choramos de medo e não temos coragem bastante para enfrentar as realidades que não nos parecem favoráveis ou agradáveis, é porque na nossa intimidade a mensagem ainda não se fez certeza. A nossa fé é tão insignificante que perante a menor contrariedade bradamos que Deus nos abandonou, que não há justiça. Trata-se, porém, de uma miopia espiritual, decorrente do nosso desejo constante de sermos agraciados com bênçãos, que por ora, ainda não são merecidas. Falta-nos coragem para acreditar, que somos caminheiros imperfeitos nesta rota evolutiva. Falta-nos humildade para crer que, quando fazemos a parte que nos cabe na tarefa, tudo acontece na hora correcta e de forma adequada. As dores que nos chegam e nos tocam são oportunidades de aprendizagem e de mudança para um novo estágio de evolução. Assim como a chuva, que embora nos pareça inconveniente e assustadora, em algumas ocasiões, também os problemas são indispensáveis para a purificação e renovação dos seres humanos. Por isso, quando tempestades pesarem fortemente sobre as nossas cabeças, saibamos perceber que tudo na vida passa, assim como as chuvas, as dores, os problemas. Tudo é fugaz e momentâneo, mas tudo, também tem o seu motivo e a sua utilidade no nosso desenvolvimento.

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