quinta-feira, 15 de outubro de 2009

COM SAÍDA


Saio do meu corpo
e o espreito sem grande habilidade.
Ele abandona a sala,
caminha pelos cómodos,
e eu fico no umbral das portas,
observando as suas escamoteações e resmungos.
Estou longe do meu corpo,
percebendo a sua trajectória desanimada,
o mistério da sua raiva.
Ele também me procura tacteando as paredes,
cabra-cega, corpo-cego, édipo sedento.
Jogo sobre ele redes e mensagens.
Ele é o peixe que busca o seu anzol.
Ele disfarça-se de mim,
e revela ao mundo osmeus pensamentos inúteis: compartilhamos o mesmo torcicolo.
Quando me reaproximo do meu corpo,
ele me injecta a repreensão do amor.
Talvez desejasse uma vingança.
Mas sou perdoado com um gesto de menino.
Na tarde mais amena,
vedamos a entrada da alma
por meio do corpo mesmo.

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