quinta-feira, 29 de outubro de 2009

PROFECIA


Há dias em que sentimos com mais intensidade o fardo da solidão. À medida que nos elevamos, monte acima, no desempenho do próprio dever, experimentamos a solidão dos cimos e profunda tristeza nos dilacera a alma sensível. Onde se encontram os que sorriam connosco no parque primaveril da primeira mocidade? Onde pousam os corações que nos buscavam o aconchego nas horas de fantasia? Onde se acolhem quantos nos partilhavam o pão e o sonho, nas aventuras felizes do início? Por certo, ficaram... Ficaram no vale, voando em círculo estreito, à maneira das borboletas douradas, que se esfacelam ao primeiro contacto da menor chama de luz que se lhes descortine à frente. Em torno de nós, a claridade, mas também o silêncio... Dentro de nós, a felicidade de saber, mas igualmente a dor de não sermos compreendidos... A nossa voz grita sem eco e o nosso anseio se alonga em vão. Entretanto, se realmente subimos, que ouvidos nos poderiam escutar a grande distância e que coração faminto de calor do vale se abalançaria a entender, de pronto, os nossos ideais de altura? Choramos, indagamos e sofremos... Contudo, que espécie de renascimento não será doloroso? A ave, para libertar-se, destrói o berço da casca em que se formou, e a semente, para produzir, sofre a dilaceração na cova desconhecida. A solidão com o serviço aos semelhantes gera a grandeza. A rocha que sustenta a planície costuma viver isolada e o sol que alimenta o mundo inteiro brilha sozinho. Não nos cansemos de aprender a ciência da elevação.

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