quarta-feira, 30 de abril de 2008

PROCURA-SE


No placard de avisos à porta do meu prédio, um dia eu coloquei um papel escrito em letras grandes, que dizia: "PROCURA-SE UM AMIGO.
Não precisa ser homem, basta ser humano, ter sentimento, ter coração. Precisa saber falar e saber estar calado no momento certo; sobretudo, saber ouvir.
Deve gostar de poesia, da madrugada, de pássaros, do sol, da lua, do canto dos ventos e do murmúrio das brisas.
Deve sentir amor, um grande amor por alguém, ou sentir falta de não tê-lo.
Deve amar o próximo e respeitar a dor alheia. Deve guardar segredo sem sacrifício.
Não precisa ser puro, nem totalmente impuro, porém, não deve ser vulgar.
Deve ter um ideal e sentir medo de perdê-lo; se não for assim, deve perceber o grande vazio que isso deixa.
Precisa ter qualidades humanas; sua principal meta deve ser a de ser amigo; deve sentir piedade pelas pessoas tristes e compreender a solidão.
Que ele goste de crianças e lastime as que não puderam nascer e as que não puderam viver. Que goste dos mesmos gostos; que se emocione quando chamado de amigo; que saiba conversar sobre coisas simples e de recordações da infância.
Precisa-se de um amigo para se contar o que se viu de belo e triste durante o dia, das realizações, dos sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas desertas, de poças de água, da beira da estrada, do cheiro da chuva e de se deitar na relva molhada.
Precisa-se de um amigo que diga que a vida vale a pena, não porque é bela, mas porque já se tem um amigo.
Precisa-se de um amigo para não se chorar, para não se viver debruçado no passado.
Precisa-se de um amigo que nos bata no ombro, sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo. Precisa-se de um amigo que creia em nós.
Precisa-se de um amigo para se ter consciência de que ainda se vive."
Há, no mundo moderno, muita falta de amizade. O egoísmo afasta as pessoas e as isola.
Contudo, não se pode viver sem amigos. Eles são a aragem branda no deserto das dificuldades.
São eles que nos oferecem o coração que compreende e perdoa, nas horas mais amargas da vida.
Sustentam-nos na fraqueza e libertam-nos nos momentos de dor.
Quando a discórdia nos atinge, são eles que estendem os recursos da amizade leal, confortando-nos a alma.
Discretos, os amigos apagam-se para que brilhem aqueles a quem se afeiçoam.
A amizade é o sentimento que junta as almas umas às outras, gerando alegria e bem-estar.
É a suave expressão do ser humano que necessita intercambiar as forças da emoção.
Portadora de paz e alegria, a amizade é presença fundamental nos amores de profundidade.
Quando a desilusão apaga o fogo dos desejos nos grandes romances, os laços da união não se rompem, se existe amizade.
E, quando os impulsos sexuais do amor passam, a amizade fica, porque as suas raízes encontram-se firmadas no afecto seguro, nas terras da alma.

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