quarta-feira, 5 de março de 2008

FRENTE A FRENTE

O futuro é um corpo
que espera a minha alma.
Chegarei pontualmente,
severo e sereno.
Mas antes a minha alma morrerá
– implícito martírio.
Chegarei pontualmente,
e abraçarei o meu corpo
que descansa de não ter vivido.

O corpo é um futuro
que anima o meu passado.
Chegarei pontualmente,
correcto e irritado.
Purificado de mim mesmo,
excepção, oração.
Chegarei pontualmente,
ajoelhado diante do meu corpo,
aeroporto da redenção.

A minha alma incorporou
esperança e memória.
Chegarei pontualmente,
sábio, ressabiado,
objectivamente subjectivado,
pobre mas lorde.
Chegarei pontualmente,
e comerei da colmeia
a amarga morte.

A minha alma enfim terá um corpo
e meu corpo não terá fim.
Chegarei pontualmente,
discreto e destruído,
mas então com o rosto em paz.
Reavido e recriado,
chegarei pontualmente.
Olharei os olhos de Deus
– frente a frente.
(Dezembro de 2007)

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